Livro lido – O cavaleiro inexistente, de Italo Calvino

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O cavaleiro inexistente [1959]

Orig. Il cavaliere inesistente

Italo Calvino (🇮🇹1932-1985)

Cia das Letras, 2005, 120p.

Trad. Nilson Moulin

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“A armadura está vazia, não vazia como antes, esvaziada também daquele algo que se chamava o cavaleiro Agilulfo e que agora se dissolveu com uma gota no mar” (Posição Kindle 1709/91%).

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Italo Calvino escreveu o belíssimo “Se um viajante numa noite de inverno”, a saga de um leitor que descobre que o livro instigante que está lendo veio com defeito, faltando páginas. É um livro excelente, mágico, inteligente, necessário.

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Dele, ainda li o “A trilha dos ninhos de aranha”, uma leitura assim mais ou menos.

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Aqui entre os volumes intocados de minha biblioteca encaixotada – ai de mim! – também está o “As cidades invisíveis”, talvez o livro mais famoso do escritor italiano, um projeto de leitura ainda relegado a algum dia no incerto futuro…

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Cá n’O cavaleiro inexistente, Calvino opera uma obra de cavalaria, a meu ver, às avessas, já que temos um herói que na verdade não existe, que de certa forma habita uma imaculada armadura branca. Seu nome é bem pitoresco: Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura, Cavaeiro de Selimpia Citerione. Possui um escudeiro, com alguma dificuldade mental, cujo nome depende do lugar onde a dupla se encontra, mas na maior parte da trama, o chamam Gurdulu.

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A estória, contada por uma monja, mais de uma vez se entranha por batalhas e desmandos nos tempos do imperador Carlos Magno. Como todo livro desta espécie, vagueia por virgens oprimidas, embates entre exércitos rivais, fala do dia a dia da tropa em seus longos bivaques. Sendo bem curta (são só 120 páginas), eu me deixei levar pela preguiça e acabei não buscando cousas que me dessem alguma ideia do momento em que Calvino escrevera sua epopeia. Logo, não sei exatamente qual sentido de tão peculiar existência, a do Agilulfo, mas cá comigo fiquei a pensar sobre a impessoalidade e suas ramificações. Nada digno de ganhar mais que uma ou duas frases, mas o abrupto desaparecimento de Agilulfo, como num passe de mágica, enraizou somente esta impressão em meu espírito, sobre como a gente existe muitas vezes enquanto esta existência satisfaz algum interesse de outrem.

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Quem sabe eu volte ao livro, numa possível releitura e tome coragem de adentrar mais sobre esta ideia. Agora, nesse instante, ficará somente esta intelecção, pequena semente extraída de um livro que, com pureza d’alma, não me impressionou muito. Paciência.


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