Livro lido – Botchan, de Natsume Soseki

Leituras de 2022

Botchan [1906]

Orig. 坊っちゃん

Natsume Soseki (🇯🇵 1867-1916)

Estação Liberdade, 2020, 184p.

Trad. Jefferson José Teixeira

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“Para mim era impossível proceder conforme me solicitava o diretor. Era um pedido totalmente exorbitante, para alguém tão impulsivo como eu, servir de exemplo aos alunos e ser um modelo respeitado por toda a escola. Segundo ele, eu não me tornaria um educador se não estendesse a influência de minha virtude moral para além dos bancos escolares. Haveria alguém de tão nobre caráter que em sã consciência se deslocaria para este fim de mundo por um salário de quarenta ienes?” (Pag. iBooks 26).

Botchan é um jovem de 23 anos, professor de matemática, que após passar alguns anos vivendo num cubículo de “quatro tatames e meio” em Tóquio, aceita proposta de lecionar numa escola no interior do Japão. Contudo, o leitor logo percebe que essa combinação “jovem de cidade X interior” não será exatamente producente, visto que Botchan desfia em sua fala de primeira pessoa um jeito ranzinza de ser que faria Bentinho, o Dom Casmurro de Machado de Assis arrepiar os cabelos.

Basicamente Soseki opera justamente essa simbiose, mistura de realidades, culturas, hábitos e rotinas da cidade grande com a pequena colônia, com o acréscimo da figura dicotômica de Botchan e sua autodefinição de pureza que beira o cômico, tamanhas as trapalhadas em que se mete, incluindo suas explosões de temperamento com alunos e colegas professores e seus laivos de grandeza.

Mesmo após concluir o volume, não sei dizer se gostei da pena de Natsume Soseki. É meu primeiro contato com ele. Sei lá, não o compararia a Junichiro Tanizaki, de quem li o excelente “Há quem prefira as urtigas”, cujo mote, guardadas as devidas proporções, também explora essa questão das tradições; ou mesmo um Yasunari Kawabata, de “A casa das belas adormecidas”, que li no início do ano, e cuja escrita lírica é um primor das letras japonesas. Mas é de passo em passo que vamos vencendo. Paciência.


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