Livro lido – Os irmãos Tanner, de Robert Walser

Leituras de 2022

Os irmãos Tanner [1907]

Orig. Geschwister Tanner

Robert Walser (🇨🇭, 1878-1956)

Cia das Letras, 2017, 288p.

Trad. Sérgio Tellaroli

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“A infelicidade! Ela pode nos impedir de transbordar, dá-nos a alma, educa nossos ouvidos para apreender o belo som que resulta da alma e do corpo respirando juntos, misturados um ao outro, invadindo um ao outro. A infelicidade faz de nosso corpo algo que é corpóreo e pleno de alma, algo a que a alma dá existência sólida dentro de nós, de modo que, assim o desejando, podemos sentir todo o nosso corpo como uma alma: a perna como a alma que salta, o braço como a que carrega, o ouvido como a que espreita, os pés como uma alma que caminha nobremente, o olho como a alma que vê, e a boca como a que beija. É a infelicidade que nos faz amar; afinal, quando foi que amamos sem sermos um pouco infelizes?” (Pág 208).

Após atravessar uma longa ressaca literária (que ainda persiste), o que me fez deixar o livro de lado por muitos dias, consegui trilhar a saga de Simon Tanner, o irmão mais novo dos cinco Tanner.

É um livro que deixa de lado personagens e enredo, pois seu enfoque está verdadeiramente na beleza das palavras. Detalhes aparentemente insignificantes permeiam as quase 300 páginas, como um mosaico vivo que vai desabrochando nas estações do ano, tão intensas na Suíça.

Apesar disso, Simon está no centro da trama, e Walser pinta o retrato de um jovem andarilho, que não está preocupado em se prender às convenções sociais, tais como ter um emprego, uma casa fixa, um relacionamento estável.

Ele sai sem destino certo, trilhando campos e cidades, dormindo em albergues, vivendo dia após dia sem planejar um futuro. É um livro sobre a liberdade, a de vivermos a vida como bem quisermos, fazendo as escolhas sem valorar se são certas ou erradas e sem se preocupar com a opinião de terceiros.

Irá gostar desta leitura aqueles que apreciam uma boa aquarela de imagens, descrições, diálogos (um tanto rebuscados), bem como os espíritos livres que tem que no carpe diem seu lema.

Eu por mim não sei ao certo se gostei ou desgostei da leitura: é aquele cisma, nascido da mixórdia de dias canhestros, meia dose de melancolia e insatisfação que, pode muito bem embotar a percepção de uma excelente leitura, tornando-a nada mais que momentos sofregamente arrastados de impaciência e incauta atenção. Ai de mim…


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