Livro lido – Demian, de Hermann Hesse

Demian [1919]

Orig. Demian: die geschichte von Emil Sinclairs jungend

Herman Hesse (🇩🇪, 1877–1962)

Record, 2016, 196p.

Trad. Ivo Barroso

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“Nada na vida repugna tanto ao homem do que seguir pelo caminho que o conduz a si mesmo” (Posição Kindle 666/26% do ebook).

“Quem quiser nascer tem de destruir um mundo. […] destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a consequente dolorosa busca da própria razão de existir: ser é ousar ser” (Posições Kindle 1286/2366).

Demian é o típico “Bildungsroman”, narrativa do amadurecimento, do indivíduo em busca de sua essência através do autoconhecimento. Narrado em primeira pessoa, na voz de Emil Sinclair, vamos nos desdobrando pelo acontecimentos colhidos durante a infância, juventude e vida adulta do narrador, que empreende uma verdadeira caçada pelos incognoscíveis e velados sinais que se vos apresenta durante sua vida.

É um livro de muitas vozes, narrativa embargada por diversas correntes de pensamento que, penso eu, foram objeto de análise do escritor Hesse, que opera uma interesse arena de teorias: vemos traços da psicologia jungiana, quando o autor aborda o papel do inconsciente, alguma influência da filosofia de Nietzsche (abordado veladamente quando critica a tomada de ações baseadas meramente no “rebanho”, na multidão) misturados ao caldeirão de religiões orientais, tais como o Gnosticismo e o Zoroastrismo, voltas e voltas para enfim se enfeixarem no objetivo redentor do autoconhecimento e formação do caráter.

É, deveras, um livro com uma grande importância já que possui um forte tom libertário, principalmente por ser parcialmente ambientado nos dias nebulosos da guerra. Sinclair dá voz a muitos dos confusos embates internos que ora temos na vida e vai alargando sua aparente vitória ao calibrado status quo emocional com a ajuda de Max Demian, espécie de guia espiritual de Emil, cuja sabedoria imensa e precoce impressiona, auxilia o amigo a entender os sinais que se lhe apresentam na vida e a renunciar aos laivos de maldade que buscam aflorar pelas frinchas da alma.

De Hesse eu já havia lido “Com a maturidade fica-se mais jovem”, uma obra que opera a já construída e consolidada satisfação existencial da vida, apesar da destrutiva passagem do tempo sobre o corpo, que não necessariamente precisa atingir a mente e a forma como interagimos sobre a realidade.

Valeu a leitura, de qualquer forma, apesar de eu, leitor incauto, não ser versado em filosofia nem afeto às crenças. A virtude e a fé, essas tão buscadas essências humanas, deveras não são para todos. Ai de mim!


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