Livro lido – O poder e a glória, de Graham Greene

Leituras de 2022 – Lista #1001livros ✅

O poder e a glória [1940]

Orig. The power and the Glory

Graham Greene (🇬🇧, 1904–1991)

Biblioteca Azul, 2020, 296p.

Trad. Mario Quintana

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“Naturalmente”, disse a pequena, “o senhor poderia…renunciar.”

“Não compreendo.”

“Renunciar a sua fé”, especificou ela, empregando o vocabulário da sua História da Europa.

“É impossível. Não há saída. Eu sou padre. Não está em meu poder.” (Posição Kindle 847/20%).

De Greene eu já havia lido “Fim de caso”, um livro curtíssimo, mas de uma beleza estética que, recordo, me impressionara muito.

Aqui em “O poder e a glória” se dá o mesmo enlevo que vi lá nas páginas daquele primeiro livro dele lido: um padre e sua saga trágica e desesperada por tentar escapar das mãos do Estado opressor, que persegue com ardor e sangue a Igreja Católica num México dos anos 20 varrido pela intolerância.

O próprio Greene visitou o país na época e, da experiência nada agradável, pode compor este relato marcante, cujo padre anônimo e dado a beber, se vê literalmente entre a cruz e a espada: os lugares seguros vão se escasseando, à medida que o cerco policial se fecha ao seu redor; também se torna “persona non grata” em todos os vilarejos onde tenta se homiziar; sua cabeça, valendo uma pequena fortuna, atrai a cobiça de uns poucos que não temem o castigo divino nem a desaprovação de seus patrícios.

O livro aborda, ainda que de forma superficial, as discrepâncias entre a fé e a razão, entre a bondade divina e o mau que reside no homem caído. Mas ainda assim, é notável a pena de Greene ao compor os cenários áridos, a escassez, o medo do padre ao sofrimento, os laivos de orgulho e jactância que o acomete vez ou outra, sua sede intratável, mas lindamente detalha o suspense do dia da sua captura, a noite em que sente o abraço da morte (como uma clara demonstração de que a fé que tanto plantou em outros, falhou e é vazia nele mesmo).

Mais não digo, pois indico veementemente a leitura dessa obra magistral, contida na grande lista 1001, de livros essenciais a ler. Ironicamente, “O poder e a glória” está assentado ao lado de “Por quem os sinos dobram”, de Hemingway (pág 414 do livro “1001 livros para ler antes de morrer”, editora Sextante), um escritor que para mim foi um erro levado a sério demais, assim como o fato de Bob Dylan ter ganhado um Nobel e (sei que vou irritar alguns) Gil ter sido elevado a “imortal” da ABL. Grandes hiatos; díspares, felizmente. Paciência.


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