Livro lido – Luz antiga, de John Banville

Leituras de 2022

Luz antiga [2012]

Orig. Ancient Light

John Banville (🇮🇪, 1945–)

Biblioteca Azul, 2013, 336p.

Trad. Sérgio Flacksman

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“O que eu achava infindável tinha chegado ao fim. Um mundo se acabava, em silêncio. Olhei novamente pela janela. A luz que orlava a cortina tinha ficado mais forte, uma luz que tremulava ao mesmo tempo em que ficava mais forte, é era como se algum ser radioso avançasse para a casa pela relva cinzenta e pelo pátio coberto de musgo, com as grandes asas frementes bem abertas; e, esperando sua chegada, sempre à espera, imergi sem perceber no sono” (Posição Kindle 3857).

Luz Antiga é o terceiro e último livro da trilogia Alex Cleaver e, na minha opinião, o melhor, mais bonito e mais poético dos três. É um romance que fala sobre a doce memória do grande amor da infância, vivido por Cleave que, aos 15 anos, se envolve com Celia Gray, 20 anos mais velha, casada e mãe de dois filhos, um deles, inclusive, amigo de Alex.

Passadas várias décadas, o ator decadente passa em revista as memórias daquele verão distante, intervaladas pela ainda viva dor da perda de sua filha Cass, 10 anos antes (tema do livro dois, “Sudário”), morta nas águas azul-turquesa de Portovenere, Ligúria, Itália e pela tentativa de entender porquê um tal Axel Vander parece se imiscuir nessa tragédia familiar.

Eu tenho cá para mim que John Banville tem a melhor pena para escrever sobre perdas e as lembranças boas (e não menos tristes) delas. O autor gosta de operar sobre os equívocos daquelas memórias que julgamos serem exatamente o que aconteceu, eclipsadas pelo nosso olhar e nossa emoção. O que é um fato, sobretudo quando olho para a minha própria coleção de memórias, muitas delas amarelecidas, carcomidas e distantes, tão distantes que há muito se foram as cores da nitidez e da certeza. Enfim.

Fazia muito não lia um livro que deveras me empolgasse tanto: e sempre achei em Banville, autor de “O mar”, outra obra necessária, esse escritor soberbo, uma ponte para esta beleza literária, dos amores que deixamos para trás, das certezas incertas, do equívoco da existência. Ciao!


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