
Leitura 49/2020
A trama do casamento [2011]
Orig. The Marriage Plot
Jeffrey Eugenides (EUA, 1960-)
Cia das Letras, 2012, 440 p.
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“As pessoas jamais se apaixonariam se tivessem ouvido falar do amor” (Posição Kindle 15).
No início do ano, eu li “As virgens suicidas”, o excelentíssimo romance do escritor americano Jeffrey Eugenides, um livro que busca reconstruir a adolescência de cinco amigos que nutriram mutuamente uma paixão platônica por cinco garotas excêntricas vizinhas deles e que dão cabo de suas próprias vidas. A maestria do romance, eivada de planos temporais em círculo me impressionou bastante, ao pontos de me prometer buscar outras cousas do autor.
Findando as leituras deste ano tenebroso que foi 2020, concluo exatamente com outro romance de Eugenides, “A trama do casamento”. Confesso que o título por mim foi interpretado pelo viés romanesco que vez ou outra me acomete (ai de mim!), e imaginei que o romance se tratava justamente dos caminhos que levam duas pessoas a se convencerem de se casar. Mas – percebi depois, enquanto avançava pelas páginas, não é um roteiro comum assim que Eugenides opera: ele traça com primor os caminhos que DESUNEM os três personagens principais da trama, Madeleine, Leonard e Mitchel, uma estudiosa do romance vitoriano, um cientista que desenvolve um estudo sobre células haploides e um especialista em religião, a cujas vidas se entrelaçam e se repelem. Madeleine, casada abruptamente com Leonard, é devassada pela doença psicológica do marido, que é amada quase secretamente por Mitchel, que odeia Leonard. Mas o romance tem muito mais que apenas esse triângulo disforme formado por eles, e aconselho sua leitura vivamente.
Eugenides, como de costume, narra esse trio às avessas utilizando seu ponto forte que é entregar o fim, a consequência, para depois reconstruir as partes que levaram a tal acontecimento. Primoroso também é o auto grau de qualidade literária que Eugenides deu ao enriquecer o romance com ótimas referências da literatura vitoriana, da ciência e da religião (a parte em que Mitchel faz sua peregrinação pela Índia é sublime!), fazendo com que o leitor tenha em mãos mais que um mero romance, mas um verdadeiro mini-tratado enciclopédico. Vale, por me fazer terminar este ano dos diabos com um romance acima da média, um bom augúrio para o 2021 vindouro!
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