Título: O complexo de Portnoy
Título original: Portnoy’s Complaint
Autor: Philip Roth (EUA)
Tradução: Paulo Henriques Britto
Editora: Companhia das Letras
Ano de lançamento: 1969
Ano desta edição: 2016
Páginas: 240
Classificação: ⭐️⭐️⭐️⭐️
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“Se eu fosse capaz de aprender alguma coisa! Se conseguisse de algum modo me libertar dessa ideia fixa de felação e fornicação, dessas fantasias de romantismo e vingança – dessa necessidade de me desforrar! Dessa absurda e desesperada fidelidade ao passado remoto!” (Pág. 187).
O complexo de Portnoy é o quarto livro de Philip Roth, publicado em 1969, onde o autor nos apresenta o seu primeiro grande personagem complexo (lembremos do Sabbath, do Sueco Levov, do Nathan Zuckerman e do Coleman Silk, todos singulares), Alexander Portnoy. Narrado em primeira pessoa pelo próprio Portnoy, o livro é uma espécie de sátira em forma de uma extensa sessão de análise psiquiátrica, onde Portnoy expõe sua turbulenta vida repleta de dramas não resolvidos.
O livro em si é muito divertido, arrancando facilmente boas risadas do leitor, isso porque Alex Portnoy expõe ao seu psiquiatra, Dr. Spielvogel, a tragica comédia (ou comédia dramática) de suas compulsões sexuais, raciais e culturais.
Vivendo numa espécie de círculo vicioso edipiano, Portnoy se vê enredado pelas marcas e traumas deixados por sua mãe, personagem responsável por boa parte dos dramas que é obrigado a conviver. Para piorar sua situação, Portnoy vive uma compulsão sexual por masturbar-se que por diversas ocasiões o põe em situações vexatórias e desconcertantes. Já com 33 anos, importante funcionário da prefeitura de Nova York, teria tudo para ser um bom partido, um “homem de família”, a perfeita personificação do homem bem sucedido, oriundo de uma cidade pequena e que, após formar-se como advogado, vence. Mas em Roth é a figura do anti-herói que ganha voz em suas páginas, expondo homens sempre envoltos em questões polêmicas e existenciais. Portnoy, filho de judeus da Newark, insatisfeito com sua origem semita, com os “valores” paternos com os quais foi criado, obrigado a manter a falsa aura de perfeição que seus pais tentaram lhe incutir, expõe essas insatisfações desprezando o judaísmo, sempre buscando ridicularizar os ritos numa oconoclastia sem medida. A figura do homem desregrado, degenerado e reprimido tendo de viver numa sociedade a cujos valores ora o reprimem, ora o revoltam, compõe este livro magnífico. E não é difícil imaginar o grau de revolta que Roth causou com a saga de Alexander Portnoy, certamente um escândalo para os idos dos anos 60.
Ler Roth se constitui numa aventura sem igual, e inegavelmente acompanhar sua evolução literária, desde cedo já magistral, é um primor dos deuses. É o caso de O complexo de Portnoy, um dos melhores livros dele.
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