Título: O testamento de Maria
Título original: The Testament of Mary
Autor: Colm Tóibín (Irl)
Tradução: Jorio Dauster
Editora: @companhiadasletras
Ano de lançamento: 2012
Ano desta edição: 2013
Páginas: 88
Classificação: ⭐️⭐️⭐️⭐️
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“Certa noite me afastei sob o céu coalhado de estrelas e acreditei, por um instante, que em breve elas deixariam de brilhar, que as noites no futuro seriam escuras para além do escuro, que o próprio mundo sofreria uma grande mudança, e então rapidamente entendi que não, a mudança se daria apenas em mim e nos poucos que me conheciam: somente nós olharíamos no futuro para o céu noturno e veríamos o negrume antes de ver o brilho” (Posição no Kindle 625/53%).
“Se a água pode ser transformada em vinho e os mortos podem ressuscitar, então quero que o tempo retroceda. Quero viver de novo antes da morte do meu filho, antes de ele ter saído de casa, quando era um bebê e seu pai estava vivo e havia tranquilidade no mundo” (Posição no Kindle 999/84%).
Eu sempre quis ler Colm Tóibín, escritor irlandês, dono de uma obra prolífica e bem conceituada. Tencionava começar a lê-lo ou pelo Brooklyn ou por Nora Webster, os livros dele que tenho aqui em casa.
Uma opinião bastante bem vinda, da minha amiga remota e leitora voraz e experimentada Márcia Huber, me fez começar a experimentar a prosa de Tóibín por um livro, bem pequeno em páginas, mas enorme em magistralidade: O testamento de Maria, publicado em 2013 no Brasil.
O Testamento de Maria é uma novela melancólica sobre o sofrimento de uma mãe que perdeu um filho. É assim que podemos resumir esse livro e foi assim que tentei ler essa história, fugindo dos enlaces teológicos que certamente devem ter causado alguma polêmica em torno do livro. Mas o que Tóibín tentou fazer, acredito que ele conseguiu foi buscar humanizar uma “personagem” que é um mito sobretudo para a comunidade católica, torná-la antes de mais nada uma mulher, uma mãe. E são esses sentimentos humanos e maternais que nos aproximam de Maria, uma mulher que perdeu seu filho para o mundo, que não aceita tê-lo perdido, que não acredita no que os outros dizem: que ele é o filho de Deus.
E aliás, este não é somente o único ponto polêmico do livro. Isso porque a Maria mãe não só não acredota nos portentos atribuídos ao seu filho como ainda busca refutar as apaixonadas expressões de devoção a ele dirigidas, sobretudo daqueles que ficaram conhecidos como seus discípulos.
Uma das partes que mais me chamou a atenção foi o fato em torno da ressurreição de Lázaro, no igualmente famoso episódio onde ele, já sepultado há quatro dias, é chamado do sepulcro em meio a uma pequena multidão. Tóibín amplia essa passagem bíblica, mostra um Lázaro desconectado, refém (apesar de estar na condição de “morto” há quatro dias apenas) de uma realidade espiritual que o torna um pária entre os vivos. Uma passagem e tanto!
Sem entrar em nenhum mérito religioso (lembremos que é ficção), o leitor é levado a reviver eventos já bastante conhecidos, mas eles não são o foco aqui. A história toda é contada através dos olhos de Maria, do seu luto, seu sofrimento, sua perda. Raiva e um sentimento de culpa por não ter conseguido salvar seu filho se misturam na narrativa de Maria, que é bastante lírica ao relembrar os últimos dias do seu filho antes da crucificação e o que aconteceu depois disso. O arrependimento de não ter buscado livrá-lo da cruz que o mataria, a fuga sem olhar para trás… Sem dúvida um livro belíssimo, uma perspectiva muito interessante que gostei bastante! Obrigado, Márcia!
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