Título: Laços
Título original: Lacci
Autor: Domenico Starnone (Itália)
Tradução: Maurício Santana Dias
Editora: @todavia
Ano de lançamento: 2014
Ano desta edição: 2017
Páginas: 144
Classificação: ⭐️⭐️⭐️
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Aldo e Vanda, o casal protagonista de “Laços”, estão juntos há mais de 50 anos, tempo suficiente para que o cotidiano se infiltrasse em cada fresta de suas vidas. Com tanto tempo, é natural que ambos viessem a sofrer a implacável ação do tempo, somadas aí as revoluções do fim dos anos 1960, as dificuldades inerentes à formação de uma família. Sobrevivem aos trancos e barrancos às viradas e chacoalhões da vida e por fim desfrutam uma velhice de certa forma confortável.
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Mas.
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Confortável seria o mesmo que feliz? Amena? Agradável?
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Em “Laços” entramos de chifre no vendaval tempestuoso da crise porque passam Aldo e Vanda. Verdadeira colcha de retalhos cerzida por cartas de fúria apaixonada, lembranças do passado que ainda dói, ressentimentos em palavras e ações, Starnone constrói um drama amargo. O próprio titulo do livro, à primeira lida, levaria o leitor a inferir em ligações emocionais, aquelas que somam, constroem e renascem. Isso é só uma aparência. Porque o título vai bem mais longe. Fala das amarras que os segredos compartimentados em objetos geram, das implicações que decisões equivocadas cobram ao casal, e mais tarde aos filhos, Sandro e Ana, à busca desesperada para desenlaçar uma herança maldita de engano e perda. O maior quilate do livro está na suspensão, nos pontos vagos, criados a partir da ausência de Aldo, que trocou o seio familiar por uma experiência nova e deliciante. Mas não deixa de perscrutar os anseios da mulher, que se flagela com a indignação de ser trocada por uma mulher mais jovem e interessante, e aos filhos, eles mesmos vendo como as desestruturas dos pais acabaram amarrando-os ao mesmo destino. Sim, todos estão laçados, mas sem os laços saudáveis que tornam a família o que é e deve ser.
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A escritora Jumpa Lahiri, autora de “O xará”, abrilhanta o trabalho com um prefácio delicioso, que aconselho ao leitor a deixar para o final da leitura do livro, devido à óbvios spoilers. Nele, Lahiri aprofunda o significado de “conter” (em inglês, “container”, recipiente), termo mais que apropriado para o drama desta família tão marcada por prisões sem muros.
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