Livro lido – Pais e filhos, de Ivan Turguêniev

Leituras de 2024 – Lista #1001livros

Pais e filhos [1862]

Orig. Otcy i Deti

Ivan Turguêniev (🇷🇺, 1818-1883)

Cosac Naify, 2015, 352p.

Trad. Rubens Figueiredo

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“Mas o calor do meio-dia passará, virão à tarde e a noite e, com ela, o regresso ao refúgio tranquilo onde o sono é doce para os fatigados e os aflitos” (pág 278).

Pais e Filhos, de Ivan Turgueniev, foi publicado em 1862 e refletiu um dos acontecimentos históricos mais importantes da Rússia do século XIX: o fim da servidão dos camponeses pelos senhores de terras. Como em qualquer movimento de transição, os conflitos de ideias aparecem, geralmente entre uma nova geração e a geração anterior.

Turgueniev opera ao leitor uma pequena amostra de como ocorre esse choque, dentro de um ambiente familiar e dentro também de cada personagem apresentado.

Tudo começa no ano de 1859, com Nikolai Petróvitch aguardando ansiosamente a chegada de seu amado filho, Arkádi, que traz consigo seu amigo Bázarov, uma figura peculiar, intrigante, que exerce grande influência sobre o colega. Essa influência se faz presente ao longo da maior parte da narrativa, e pode ser vista desde o primeiro momento, quando Arkádi, apesar de seu imenso apreço pelo pai, se comporta de maneira mais fria, sem condizer com a imensa felicidade do reencontro entre pai e filho. Acontece que Bázarov se define como sendo niilista: um sujeito que recusa toda e qualquer tradição, que vive de acordo com princípios práticos e úteis, não se rende a sentimentalismos que não servem para nada e que a tudo prova pelo materialismo.

Representando a geração anterior, Bazárov se comporta como o sujeito frio, distante, extremamente irônico e de fato com certa arrogância. Arkádi, que tanto admira o amigo, se esforça para agir de maneira semelhante. E enquanto os dois jovens negam toda e qualquer opinião emitida pelos pais, estes, por sua vez, se mostram abertos e mais do que dispostos a conhecer as ideias da nova geração. Trazendo o mote para os dias atuais, como que o romance nos faz enxergar os mais velhos como pessoas rígidas e inflexíveis: em Turgueniev esses papéis são invertidos, e os mais velhos se mostram mais sábios na medida em que tentam se adaptar, mesmo sem compreender, aos novos tempos.

Contudo, à parte dos acontecimentos objetivos do livro, do engajamento político e social muito bem retratado pelo escritor russo, um bom clássico que se preze sempre apresenta alguma trama amorosa e é o que acontece quando a dupla conhece Ana e Katia, aquela uma viúva jovem e rica e esta a irmã mais nova, bela e recatada e é quando vemos algumas mudanças notáveis tanto em Arkádi, que rapidamente abre mãos dos ensinos niilistas para se entregar à paixão por Katia, e no próprio Bazárov, que apesar de não admitir, teve seus pilares racionais tocados por Ana…

De Turguêniev eu já havia lido o minúsculo “Primeiro amor”, uma novela em que narra o jogo de sedução de uma mulher mais experiente e um jovem adolescente, que tem de lidar com a paixão avassaladora que o acomete. Mas certamente “Pais e filhos” é daqueles livros sublimes, uma obra que sabidamente venceu o tempo e continua atual e belo em suas frases ilustradas com o melhor que a literatura russa pode ofertar a este mundo tenebroso. Que livro, amigos!


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