
Leitura 32/2021
O conto da ilha desconhecida [1997]
José Saramago (Portugal, 1922-2010)
Companhia das Letras, 2016, 64p
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“Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós” (Posição Kindle 152/64%).
Voltando às letras de Saramago, de quem li ainda há poucos dias “As intermitências da morte”, neste pequeno conto, somos apresentados a um homem que se dirige ao rei de um país imaginário a fim de solicitar ao monarca um barco. O motivo seria navegar em busca de uma tal ilha desconhecida. Ponto.
As já conhecidas passagens engraçadas, improváveis, surreais da estória não diferem do habitual estilo de escrita do Nobel de 1998. É, como outros livros seus, cheio de pilhérias, mas, se atentarmos para o enigma que o autor entranhou nessas letras, vemos que este conto tem muito o que pensar.
Partindo do pressuposto de que toda leitura simbólica tem um quê de factualidade, o homem intransigente, a cujo desejo por um barco – mesmo sem nada entender de navegação – pode muito bem retratar cada pessoa que, diante das dificuldades, decide romper a austera cadeia de “burocracias” e partir rumo ao desconhecido, ao seu próprio âmago, onde, quase certo, se encontram verdadeiros arquipélagos de ilhas desconhecidas. Nessa aventura o homem encontra uma companheira, a funcionária responsável pela limpeza, que topa sair do seu emprego estável e sai rumo ao improvável. O que faz-nos pensar que, ainda que não saibamos ou não queiramos, até mesmo as ilhas mais isoladas, mais solitárias, mais distantes, cabe alguma forma de ligação, que une, que ampara, que locupleta.
Incrível. Um livro aparentemente bobo. Mas que dá muito o que pensar!
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