
Leitura 30/2021
Sula [1973]
Orig. Sula
Toni Morrison (EUA, 1931-2019)
Companhia das Letras, 2021, 176p
Trad. Débora Landsberg
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“Sula era nitidamente diferente. A arrogância de Eva e a permissividade de Hannah se amalgamavam nela, e, com um toque que era só de sua imaginação, ela sobreviveu a seus dias explorando os próprios pensamentos e emoções, lhes dando plenos poderes, sem sentir a obrigação de agradar ninguém a não ser que o prazer da pessoa lhe desse prazer. Tão disposta a sentir dor quanto a gerar dor, a sentir prazer quanto a dar prazer, a vida dela era experimental” (pág 128/iBooks).
“Era uma pária, então, e sabia disso. Sabia que a desprezavam e acreditava que eles enquadravam o ódio como asco pelo jeito fácil com que se deitava com os homens. O que era verdade. Ela ia para a cama com homens na maior frequência possível. Era o único lugar onde achava o que procurava: sofrimento e a capacidade de sentir profunda tristeza. Nem sempre teve consciência de que era a tristeza o que almejava” (pág 132/iBooks).
Sula, segundo romance publicado pela escritora americana e ganhadora do Nobel de Literatura de 1993, Toni Morrison. O livro, como o próprio título e, apesar de girar por duas gerações anteriores à protagonista, conta principalmente a história da amizade de Sula Peace e Nel Wrigth, iniciada ainda na infância das duas. E, de como, com os anos, a maturidade e, obviamente, as escolhas de ambas, acabou se tornando uma relação de ódio.
Enquanto Nel escolheu construir uma vida estável, apropriada para a época (anos 20/30), foi casada com Jude, com quem teve um filho, Sula é a típica garota rebelde, confrontadora, que um dia abandona a própria família – sua avó Eva, sua mãe Hannah (que morre precocemente ) e vai embora da pequena cidade onde cresceu junto com a amiga. Passados muitos anos, Sula retorna a Medallion e acaba por se tornar o centro de diversos escândalos com seu comportamento nada tradicional, antes libertário e sem pudores.
Ao reencontro entre as amigas espera-se que sejam retomados os velhos laços interrompidos mas, ao contrário, quando Sula tem um rápido caso com o marido da sua velha amiga, a relação entre ambas entra em crise, abalando Nel e fazendo com que Sula ganhe ainda mais a antipatia de seus parentes e patrícios.
O livro de Morrison me ganhou mesmo foi pela beleza da escrita, uma forma estética de escrever que cativa, uma voz suave narrando traumas, segredos, assuntos crus e difíceis , e que foi inclusive alvo da autora no prefácio desta edição ao falar de estética versus engajamento político. Além disso, notável as muitas camadas simbólicas que a escritora se vale neste belo livro, reconstruindo todo um universo realístico quando aborda com lucidez o preconceito racial (Medallion era uma cidade tipicamente de moradores negros), as dificuldades porque eram submetidas as mulheres nos anos 1920 e pela força interna com que Sula se moveu perante uma sociedade ortodoxa dentro de um universo próprio.
Não sei porque demorei tanto para ler a belíssima prosa de Toni Morrison. Ainda bem que alguns equívocos ainda podem ser resolvidos! Paciência.
Quero muito conhecer a escrita dessa autora
Oi Kelly. Foi meu primeiro contato com a Morrison, mas vou ler outras coisas dela, com ctz! Abraços!