
Leitura 38/2020
Remissão da pena [1988]
Orig. Remise de peine
Patrick Modiano (França, 1945-)
Record, 2015, 128 p.
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“Eu distinguia seus rostos sob a luz forte da lâmpada do alpendre. Alguns ficaram gravados em minha memória para sempre. E me surpreendo que os policiais não tenham me interrogado: entretanto as crianças veem. E ouvem também” (Posição Kindle 459).
O livro trata de forma romanceada, em primeira pessoa, de um curto período na vida de Modiano, quando ele tinha dez anos e, na companhia do irmão mais novo, foi deixado pelos pais sempre ausentes – uma atriz belga em constantes turnês e um comerciante judeu especializado em negócios escusos – aos cuidados de três amigas da família num vilarejo nas cercanias de Paris.
O livro não é curto somente em páginas, isso porque o autor, exacerbando essa economia, constrói uma narrativa onde as vagas são constantes, inconclusivas e que instigam o leitor de alguma forma, a buscar entender essa atmosfera onde pairam vestígios humanos e o efeito dramático final, de abandono e solidão que é o que fica reverberando na cabeça do leitor.
Minha primeira experiência com o escritor francês foi com “PARA VOCÊ NÃO SE PERDER NO BAIRRO”, um dramático périplo de um homem que é trazido da sua solidão para o centro de um pedido inusual. Modiano tem essa característica: de escrever com uma frugalidade tocante, onde permeia a memória que resiste a ser transmutada pelo poder recriador da ficção. Vale!
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