
Leitura 34/2020
Infância [1945]
Graciliano Ramos (Brasil, 1892-1953)
Record, 2020, 352 p.
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“Eu precisava ler, não os compêndios escolares, insossos, mas aventuras, justiça, amor, vinganças, coisas até então desconhecidas. Em falta disso, agarrava-me a jornais e almanaques, decifrava as efemérides e anedotas das folhinhas. Esses retalhos me excitavam o desejo, que se ia transformando em ideia fixa” (Posição Kindle 2306/62%).
Infância, como o próprio título já diz, reúne as memórias mais remotas do escritor alagoano Graciliano Ramos. São capítulos curtos, primeiro publicados em periódicos da época (por isso mesmo, cada um termina com aquele macete apelativo instigando o leitor a esperar o próximo!) e que são uma espécie de unificação de retalhos da memória e o talento literário do autor.
O livro reconstrói um pedaço da infância de Graciliano, quando sua família migrou de uma fazenda no interior de Pernambuco para uma vila em Alagoas. O olhar atento do menino vai sendo inundado por tipos humanos esquisitos, por detalhes de secas e cheias, por sentimentos nascentes, pelo nascimento de uma paixão infantil e, principalmente, pelo encontro da leitura e dos livros com o jovem Graça.
Esses são os capítulos mais interessantes do livro, pois mostram um Graciliano arredio à escola, ao ato de ler, absorto em sua própria estupidez ignorante. As letras esparsas o deixava ainda mais acanhado, atordoado, até que, vencidos os métodos antiquados da alfabetização da época, o menino se apaixona pelos livros e pela leitura…
Graciliano Ramos sempre foi um de meus escritores favoritos, ao lado de Jorge Amado, Zé Lins do Rego. Soube como ninguém retratar a vida do nordestino, suas mazelas e receios, seus medos e expectativas. Sua prosa seca, enxuta, exaustivamente reescrita, revela, além da economia de palavras, um esmero incomum onde cada palavra deve suficiente para dizer o que tem de dizer. Sem dúvida, um grande escritor!
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