
Leitura 33/2020 – Lista 1001
Adeus às armas [1929]
Orig. A farewell to arms
Ernest Hemingway (EUA, 1889-1961)
Bertrand Brasil, 2018, 406 p.
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“Queria esquecer a guerra. Eu havia declarado a paz em separado” (Posição Kindle 3345).
“Mas você não ama o chão de um vagão, nem canhões com cobertura de lona, nem cheiro de metal lubrificado ou uma lona que a chuva atravessa, mesmo sendo tão confortável estar aqui debaixo da lona e com todos esses canhões; acontece que você ama uma pessoa a qual não pode sequer fingir que está aqui, agora” (Posição Kindle 3409).
Sim, mais um livro do Hemingway – o cara que logrou o prêmio Nobel de literatura de 1954 – que leio. Com este, já são cinco os livros que li dele. E, como já previa, mais um livro insosso, medíocre (na média), desconexo, dispensável, para dar envergadura à minha teoria de que os críticos da Academia, aqueles que negaram o Nobel a Roth, o grande escritor essencial, sofriam de obtusidade córnea ou má fé cínica, no dizer de Eça de Queiroz, outro escritor essencial.
Eu sabia onde estava me metendo: depois de tantos livros fracos, sem estofo, com diálogos e passagens sofríveis, eu sabia intimamente que iria me decepcionar, mas queria muito ler este livro, por dois motivos: pelo tema da guerra e por ser um dos primeiros livros do escritor, que talvez pudesse ter sido concebido com algum esmero a mais.
A história transita em torno do tenente Freddy Henry, um oficial a serviço do exército italiano que, ao se “cansar”da guerra, resolve abandonar sua função e posto (era responsável pelo serviço de ambulâncias) e deserta, fugindo para a Suíça. Hemingway introduz um improvável amor entre Henry e a enfermeira Catherine, com quem foge num bote pelas águas geladas do norte da Itália. Eles professam amar-se; ela acaba engravidando; no fim, um parto difícil que ceifa a vida do filho e da mãe…
Não nego que Hemingway não tenha tido boas ideias para seus romances. Por exemplo, neste, são epicamente notáveis as passagens em que Henry decide pela deserção e pelo fuzilamento e foge numa retirada dramática pela mata castigada pelo frio. É, talvez, a parte mais aproximada de uma história que se passa no tempo da guerra (quem puder, leia o excelente “Nada de novo no front”, um belo e excelente livro!).
Mas há algo em sua forma de contar que é patético, raso e sem nexo. Uma mulher ridiculamente submissa a Henry, sempre com palavras excessivamente açucaradas que soam quase imbecis; o próprio drama do tenente Henry, um homem que busca sobreviver em meio à guerra, que para mim não soou tão diferente do que a agonia de um gato que procura pegar uma mosca; um mar de clichês e mais clichês que tornam essa orgia de mais de 400 páginas um exercício de paciência incomum. Tenho para mim que ou Hemingway tinha algum prazer na autossabotagem, tamanha era sua habilidade em escrever livros tão ruins.
Então me vem os exemplos na seara da música, aqueles filhos de cantores consagrados que só vieram ao conhecimento do público pelo carisma e dinheiro de seus pais famosos e verdadeiramente talentosos, e ficam patinando numa carreira patética e sem qualquer originalidade. É mais ou menos o que vejo em Hemingway, um autor levado demasiadamente a sério por uma obra que até um Irving Wallace seria capaz de escrever melhor.
Este era o último livro de Hemingway que nutri desejo em ler. Acabou-se a agonia. Agora estou em paz e com a consciência lavada.
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