
Leitura 25/2020
Aspectos do romance [1927]
Orig. Aspects of the novel
E. M. Foster (UK, 1879-1970)
Globo, 2005, 323 p.
_____________________________
“É preciso ler os livros (o que é um infortúnio, porque isso leva tempo); é o único modo de descobrir o que eles contêm” (Posição no Kindle 549/15%).
É sempre bom, no intervalo entre romances lidos, ler sobre o ofício da literatura. Gosto de buscar entender os mecanismos por trás da escrita, suas motivações, objeto e meios pelos quais se dá a composição. Quase sempre, nessas leituras, além de aprender um pouco mais como valorizar os livros por algum viés, acabamos por nos deparar com ótimas listas de sugestões para ler.
Ano passado li o livro do James Wood, “Como funciona a ficção”, um bom texto onde o autor traça em dez capítulos elementos para a construção do texto literário. Não é um livro muito acessível no quesito didático, mas apresenta um interessante olhar pelo modo como a ficção é feita.
Nesse campo, meu queridinho mesmo é o fabuloso “Para ler como um escritor”, da americana Francine Prose, e que li no já distante ano de 2016. É uma obra cara para mim, não porque eu queira ser escritor, seu público alvo primário, mas por possuir uma forma bem acessível e nada academicista de apresentar o texto literário e a forma como apreciar esse texto de forma mais integral, enxergando os elementos por trás da intenção do autor. Prose mostra com detalhes os elementos que fazem diferença no texto, a beleza da musicalidade, os detalhes na escolha da palavra, coisas que leitores quase nunca se atentam. Ler com tanto apuro é quase uma tarefa hercúlea de tão lenta, ainda mais a dinâmica alucinada que nos obriga a correr sempre e, por consequência, a ler mais rápido, o que, na visão da autora, não é bom para o processo de ler para obter prazer. Sempre revisito o livro de Prose, ao acaso, capítulos e passagens esparsas, ou mesmo a magnífica e esclarecedora entrevista que a autora dá no fim do livro.
Não posso dizer que o livro de E. M. Foster, que acabo de ler, esteja no nível do de Prose. Talvez entre ela e Wood. Nele, o autor britânico expõe uma espécie de conferência dada em Cambridge, e que aborda em oito capítulos os aspectos do romance que considera relevantes: estória, pessoas, enredo, fantasia, profecia, padrão e ritmo.
Na obra o autor diz não ter a pretensão de ser “científico”, daí o título “aspectos”, dando ao leitor alguns olhares diferentes para o romance, o que, a meu ver, e apesar de fazê-lo num esforço de apresentar sua tese em uma linguagem mais simplista, ainda me pareceu bastante intrincado. Não que o livro seja ruim, é muito bem escrito. Mas, Foster peca em não expandir a apreciação de sua análise para outros integrantes da série “A” da literatura. Apesar de citar Tolstói e Dostoiévski, os dois maiores romancistas russos, Foster se debruça quase que absolutamente a autores ingleses ou de língua inglesa, como as irmãs Brontë, Henry James e Herman Melville. Aqui ou ali uma referência à literatura clássica antiga.
Comum a este tipo de publicação, o leitor é brindado com trechos de livros os quais são analisados e que acabam motivando posteriores procuras destes autores. É quando é possível ir montando as famosas e infindáveis listas de livro para ler, que são engordadas com as sugestões ali dadas, o que no livro de Foster encontramos à larga.
Sim, valeu a pena ter lido, até porque quanto mais aberto for o entendimento dos mecanismos de formação da ficção, talvez sirva para leituras mais apreciadas e mais produtivas. Apesar de que, eu mesmo não leia como um crítico, um analista ou mesmo um aspirante a escritor. O faço pelo prazer mesmo, porque a vida é curta demais para ler academicamente. Segue o baile!
Deixe um comentário