
Leitura 18/2020
Como ficar sozinho – Ensaios [2002 a 2011]
Orig. How to be alone/Farther Away
Jonathan Franzen (EUA, 1959-)
Companhia das Letras, 2012, 328 p.
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“A essência da ficção é o trabalho solitário: o trabalho de escrever, o trabalho de ler” (Posição no Kindle 2864/60%).
Fazia tempo eu queria ler algo do escritor americano Jonathan Franzen. Seus livros, dentre os quais estão títulos como “As correções”, “Liberdade” e “A zona do desconforto” estão aqui ora empilhados entre outros calhamaços (são livros bem grandes), ora espremidos na memória de meu e-reader. Mas foi com esta coletânea de ensaios seus o livro escolhido para sentir a pena do sujeito.
O livro, edição brasileira que é na verdade um compilado de dois outros livros de Franzen, trazem 12 artigos sobre assuntos diversos, mas que, inevitavelmente, leva o leitor para o universo criativo do escritor, e até um mais fundo, revelando uma existência onde o que mais impera e chama a atenção é a negação para o irresistível conforto do autoengano. Faz isso transitando entre temas como suicídio, sistema prisional americano, a perda da privacidade e a própria literatura, tema este que a meu ver é o ponto alto do livro.
Sendo na verdade pedaços de dois livros, acredito que o critério de escolha destes ensaios tenha sido trazer ao leitor brasileiro uma multifacetada ideia de que a solidão abordada pelo escritor pode ter seu lado bom, sobretudo no processo criativo e de autodescoberta.
Certamente os muitos e incautos leitores, que erroneamente costumam julgar o livro pela capa – e seu título, possam pensar que a obra se trata de mais uma obra de autoajuda, o que não é de todo exagero: Franzen aborda temas da atualidade, os mistura com elementos pessoais e extrai daí um texto muito bom e com algum estofo. Em muitas passagens dramáticas, ele expõe uma sensibilidade tocante, palavras fortes embargadas ora de dor, de desilusão, de amor pelos seus e pela escrita. O rápido definhar do pai doente, a devastadora dor da separação sob um divórcio difícil, o estranho e poético ritual de lançar as cinzas do também escritor David Foster Wallace, morto há alguns meses, no mar de uma ilha solitária entre sessões de leitura de “Robinson Crusoé”, a dor que foi ter de rememorar lembranças difíceis na velha casa dos pais durante a produção de um curta-metragem, são alguns dos bons aperitivos que o livro traz. Mas, sobretudo, quando trata da literatura, as dificuldades de sair do obscurantismo, os processos de elaboração, dos colegas de profissão numa lista de autores os quais foram acrescidos à minha infindável lista de livros para ler, fazem dessa coletânea um livro acima da média e um bom start para concluir que Franzen, muito longe de ser um escritor da estirpe de um Updike, um Auster, um Roth, um Foster Wallace, não é de se jogar fora. Tá no jogo!
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