
Lista #1001livros ✅
Título lido: Não tenho medo
Título original: Io non ho paura
Autor: Niccolo Ammaniti
Tradução: Roberta Barni
Lançamento: 2001
Esta edição: 2003
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 208
Classificação: 3/5
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“- E onde estamos então?
⁃ Num lugar onde a gente espera.
⁃ E o que a gente espera?
⁃ Ir para o paraíso” (pág. 137).
Pelos olhos de um menino de nove anos, extrai-se o valor da verdadeira amizade e a dor da decepção. Como não se comover com o sacrifício alheio? Como encarar o fato de que às vezes aqueles em quem mais confiamos são os primeiros a nos desapontar? A verdadeira face de quem nos cerca nunca é o que parece. Por trás de um sorriso há sempre intenções que desconhecemos. E essa descoberta pode ser muito dolorosa.
Tal realidade, despida de eufemismos, percebida pelo pequeno Michele, o nosso personagem e narrador de “Não tenho medo”, à medida que o livro avança, termina por arrancá-lo do universo ingênuo que o envolve, fazendo-nos cúmplices de sua angústia, de seu esforço e de sua esperança de que tudo termine bem.
O livro traça uma quase trágica história num pequeno vilarejo no sul da Itália. Tendo como pano de fundo a Itália dos anos 70, é uma história curta mas pungente. Atinge o leitor de modo certeiro, tornando impossível largar o livro. Eu mesmo li quase de uma sentada, tamanho o desejo de ver desvendado o suspense que o livro vai construindo. Suas duzentas e poucas páginas, escritas com um bom dinamismo, contêm os elementos essenciais para tornar a leitura fluida. O maior mérito do autor Niccolò Ammaniti não está exatamente no enredo do livro, mas em levantar questões perturbadoras, diante da ética típica de uma criança, fazendo-nos perceber as raízes de nossa própria moralidade. É impossível não indagar a si próprio “o que eu faria no lugar do pequeno Michele?”
E o final do livro? Talvez seja um dos melhores que já tenham sido criados. Evitando estragar a surpresa, dá para dizer que Ammaniti é mestre em criar suspenses e situações que vão se tornando cada vez mais urgentes. É exatamente o que ocorre no fim de “Não tenho medo”. Página a página o leitor sente o fôlego roubado, como se as letras e linhas impressas o agarrassem pelo pescoço. E tudo termina de repente, mas de modo perfeito. Mais não digo para não estragar a saga de quem queira ou tenha a oportunidade de lê-lo, mas adianto que, apesar de causar-me estas reflexões, dificilmente é um volume que eu leria, por faltar, em minha modesta opinião, um estofo mais robusto, mais denso. Paciência.
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