
Título lido: Na praia
Título original: On Chesil Beach
Autor: Ian McEwan
Tradução: Bernardo Carvalho
Lançamento: 2007
Esta edição: 2007
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 136
Classificação: 4/5
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“Tudo aquilo que ela precisava era a certeza do amor dele, e da sua garantia de que não havia pressa, pois tinham a vida pela frente. Amor e paciência – se pelo menos ele tivesse conhecido ambos ao mesmo tempo – certamente os teriam ajudado a vencer as dificuldades. E que dizer das crianças que poderiam ter tido, e da menininha com um arco no cabelo que poderia ter se tornado sua filha querida? É assim que todo o curso de uma vida pode ser desviado – por não se fazer nada” (Posição no Kindle 1621/97%).
apesar de ter sido publicado em 2007, “na praia” é um livro comovente e atual, um passo a mais nas batidas histórias de amor. narra a noite de núpcias do jovem casal edward e florence que estão passando sua lua de mel num hotel à margem do canal da mancha.
um livro com um mote assim pode rapidamente ser inferido, imaginado, não fosse a familiar habilidade de ian mcewan em transformar enredos literários em uma gradual construção de suspense psicológico. foi assim com outros livros seus que li: o jardim de cimento, reparação, amor sem fim, enclausurado, todos bons e honestos romances.
em “na praia” o leitor vai sendo conduzido à crescente tensão entre o jovem casal, que passadas oito horas desde a cerimônia que os uniu, vão sendo dissecados pela narrativa em terceira pessoa, à expectativa, aos desejos, às naturais incertezas, à falta de habilidade para o sexo (pelo menos os dois assim pensam um do outro), o medo de florence ante o desconhecido, o anseio meio machista e ousado de edward em consumar o ato. é nesta atmosfera meio romântica, meio tensa que somos apresentados a um pouco da história dos dois e de como se uniram num amor meio imaturo, mas ainda assim sincero, envolto pelas rígidas regras sociais, numa época (anos 1960) em que a educação para moças – sobretudo a sexual – era bem distinta dos garotos.
mcewan sabe trabalhar com o psicológico de seus personagens e com cenas e flashbacks. ele desvenda as profundas engrenagens do pensamento dos dois, desnuda suas motivações, traça perfis, expõe motivos. mas, ainda que o romance pareça trágico diante da iminente ruptura em mais uma história de amor que se rompe à beira do mar, é a grande lição que o livro traz pelo escritor que faz com que pensemos em como a vida, essa breve e ininterrupta caminhada entre as incertezas da felicidade, tem um tantinho do nosso dedo nas escolhas feitas ante às tantas bifucarções que se nos apresenta. grande mcewan! e que siga o baile, ou a vida!
Grande Paulo, tudo certo? Nas férias sempre viajo. Tirei uns dias na África do Sul, veja só, depois escreverei sobre isso. Também li as notícias sobre a má fama do Peter Handke, mas eu tenho a não levar isto em conta. O mundo está muito moralista e cheio de gente que parece gostar de escravos mentais, é não de gente que pense por si só. Se é que me lembro bem defendeu o lado Servio na guerra da Yugoslávia/Bósnia. Lembro-me que o Juca Kfouri e o ex-jogador Petković fizeram o mesmo em um programa aqui, mas isso não rendeu críticas e boicotes a ambos. Li 3 livros do Handke, mas próximas semanas escrevo mais sobre ele. E você. De vez em quando leio tuas postagens. Sou meio canalha em não comentar no teu blog. Esse do McEwan eu gostei. Estou o o último dele para ler (A barata). Grande abraço e grande ano.