Título lido: Mr. Gwyn
Título original: Mr. Gwyn
Autor: Alessandro Baricco
Tradução: Joana Angélica d’Ávila Melo
Lançamento: 2011
Esta edição: 2014
Editora: Alfaguara
Páginas: 224
Classificação: 3/5
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“nos fixamos na ideia de ser um personagem envolvido numa aventura qualquer, mesmo que muito simples, mas o que deveríamos entender é que somos toda a história, e não só aquele personagem. somos o bosque onde ele caminha, o mau que o sacaneia, a bagunça que existe ao redor, toda a gente que passa, a cor das coisas, os rumores” (posição no kindle 2231/97%).
mr. gwyn, o terceiro livro do escritor italiano alessandro baricco que leio, fala do relevante papel do fazer literário e, principalmente, da importância do redescobrimento das relações humanas, tudo com muita sensibilidade. o livro, composto por 68 capítulos, narra em terceira pessoa a história de jasper gwyn, um escritor inglês mundialmente famoso que não quer mais escrever. o autor abandona a literatura para encontrar algo mais profundo que ela. mr. gwyn principia sua recusa literária a partir de um artigo que escreve para o “Guardian”, no qual é colaborador. em tal publicação, jasper elabora uma lista de 52 coisas que não fará mais na vida, dentre elas não mais escrever, quando se isola no interior da espanha.
de retorno a londres, vive como um anônimo. seu editor e melhor amigo desespera-se, mas afirma que gwyn vai voltar a escrever. na verdade (sem spoilers), o escritor está atrás de outra atividade que ainda não existe. ou seja, sua síndrome de bartebly não é tão severa. ele mais ou menos deixa de publicar. e começa a escrever retratos. a ser um copista de pessoas.
com esse intuito, constrói um ambiente propício onde poderá testar uma nova forma de escrita, ainda que não saiba exatamente como fazê-lo nem o que daí surgirá. convence várias pessoas a “posarem” numa sala ampla, iluminada por 18 lâmpadas especiais e um loop musical criado para a experiência, e é nesse período que o experimento se dá. ao final (que se dá com a “morte” das lâmpadas), gwin acredita ter conseguido captar algo de cada pessoa que ali esteve. ele crê ter encontrado o retrato…
o texto de baricco é poético e intrigante. mesmo que não haja um tremendo mistério a ser revelado, a história faz com que pulemos de um capítulo para outro para saber mais. afinal, é necessário saber onde gwyn quer chegar. a prosa é construída nesse ritmo frenético e dinâmico, muitas vezes dizendo muito menos que esperaria o leitor, tirando toda expectativa de obviedade. ao final, se descobre que até mesmo a resposta para tudo isso não está lá na página escrita, mas em si mesmo, no próprio leitor.
busquei ler o mr. gwyn porque é nele que é citado o “três vezes ao amanhecer”, que li esta semana. mas, para minha surpresa, uma obra pode sobreviver sem a outra, porque baricco, ah, esse baricco, causa verdadeiro assombro na forma como escreve. vale!
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