Lista #1001livros
Título lido: 🅰️ letra escarlate
Título original: The scarlet letter
Autor: Nathaniel Hawthorne
Tradução: Christian Schwartz
Lançamento: 1850
Esta edição: 2017
Editora: Penguin/Companhia das Letras
Páginas: 336
Classificação: 5/5
—————————————
“Não existe lei, nem respeito à autoridade, tampouco observância das regras e opiniões humanas, do certo e do errado” (pág 150).
Começo esta resenha, sobre o último livro que leio em 2019, fechando mais um ano que, apesar das turbulências enfrentadas, me rendeu ótimas leituras e momentos de sofreguidão em meio ao caos nacional e às já comuns batalhas da vida…
Em “A letra escarlate” acompanhamos o relato dramático da triste existência de Hester Prynne, moradora de Boston, uma comunidade puritana no interior da Inglaterra. O puritanismo foi uma corrente religiosa extremamente rígida e ortodoxa, à qual em suas mãos nossa personagem e heroína acaba se tornando uma espécie de mártir viva. Acontece porque Prynne, recém chegada de uma outra colônia, de onde aguarda a vinda tardia do marido, acaba se envolvendo com um homem e dessa relação nasce sua filha Perl, fato por si só execrado e punido com um tempo na prisão. Uma vez questionada pela sociedade da colônia de Boston de quem era a garota, Hester se nega a revelar sua identidade, do que é obrigada, por seu ator e adultério, a exibir bordada em seu peito a letra “A” (de adúltera), que seria a marca de seu crime-pecado.
Sendo um romance que explora a força interior da mulher, Hester, mesmo sendo exposta ao vitupério e ao degredo (ela acaba indo viver com a filha numa cabana no meio da floresta), não aceita a condição. Busca, ao invés, praticar atos de bondade ao povo que ora a bane e a molesta. Vai de encontro a regras sociais utilizando-se de uma força interior que deveras torna nossa personagem uma mulher de fibra.
Mas o livro vai além, explora não só a impiedade com que são tratados os que erram, mas Hawthorn também explora o lado prático da hipocrisia, da consciência deturpada e obscurecida pelo segredo. O reverendo Dimmesdale, pároco local, mantém um pecado oculto da comunidade da qual tem a função de pastorear. Sua angústia é levada ao grau da quase loucura, quando deixa que sua fé esmoreça e sejam abalados os pilares de sua religião.
O livro traz outros personagens menores, mas é no trio formado por Prynne, Dimmesdale e um médico inclinado para as artes obscuras, Roger Chillingworth, que gira toda a história, além da própria Perl, um relato sobre pecado, culpa, hipocrisia e redenção, tão bem escrito e tão atual em se tratando de um livro de meados do século XIX. É notável a semelhança estilística de Hawthorn com nosso escritor maior, Machado de Assis. Em muitas passagens enxerguei o realismo cru e inquietante do Bruxo. A terceira voz que destrincha e avassala alma, pensamentos e intenções das personagens está ali na forma de longos e bem escritos parágrafos, o que me faz pensar no tão bom escritor que Nathaniel Hawthorn é.
Sobre o livro em si, mais não digo para não estragar outros aventureiros que porventura o leiam, mas posso adiantar que um livro com já largos anos se mantém estranhamente atual nesses tempos em que se tornam tão frágeis as certezas humanas. Fechar um ano de leituras com um livro de tamanha envergadura é um deleite que lhes entrego, o que renova as expectativas para novas e marcantes leituras em 2020. Um salve!
Deixe um comentário