Título lido: Submissão
Título original: Soumission
Autor: Michel Houellebecq
Tradução: Rosa Freire d’Aguiar
Lançamento: 2015
Esta edição: 2015
Editora: Alfaguara
Páginas: 253
Classificação: 4/5
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“é a submissão. a ideia assombrosa e simples, jamais expressada antes com essa força, de que o auge da felicidade humana reside na submissão mais absoluta” (posição no kindle 2458/86%).
fazia algum tempo eu queria ler algo do francês houellebecq, um prolífico escritor que tem tido certa regularidade em produzir romances. como “submissão” já estava há algum tempo emperrado na minha biblioteca do kindle, a escolha acabou sendo esta e, de certa forma, foi bom ter começado por ele.
o livro é uma espécie de distopia, imagina uma frança num futuro não muito distante, que após um sufrágio, vê ascender à presidência o partido mulçumano. sabemos disso pela voz de françois, o protagonista e professor acadêmico da universidade de paris-sorbonne, um homem solitário, frustrado e desgostoso da vida. apesar dos pululantes acontecimentos políticos de seu país, o vemos dia a dia desfiar um mar de desencantos, sua apatia, seus desencontros amorosos e sua decidida reclusão, que o torna crítico com tudo e com todos. o típico homem acomodado, a despeito de sua produção acadêmica que é composta por uma garbosa tese sobre o escritor jorys-carl huysmans com suas quase oitocentas páginas.
com a vitória mulçumana, françois se vê obrigado a lidar com uma realidade nova, catastrófica para muitos mas que para ele – descobre-se logo depois – não chegou a ser tão má.
o título em si me fez pensar que, em se tratando de uma distopia, eu veria a ascensão de uma espécie de sistema que iria oprimir à população, instaurando, como todos sabemos, um regime de terror. livros tais como os excelentes e essenciais “admirável mundo novo” e “1984” são bons exemplos que cito, mas em submissão o que ocorre de fato é que, numa sociedade que já possui tamanho grau de permissividade, como a francesa, onde a grande massa perdeu sua identidade (aqui representada por françois), uma guinada política pode muito bem ser um momento ideal para uma mudança positiva. e é exatamente o que faz o partido mulçumano: uma conquista mas sem guerra, instaura um novo regime, mas sem revolução, somente utilizando-se o mecanismo retórico. françois, uma vez que acreditava estar excluído da sua vida acadêmica devido a uma exoneração abrupta, acaba sendo cooptado para dentro do sistema, sendo seduzido sutilmente pelas opiniões de seu novo reitor, um intelectual renomado e um islamita convicto, que lhe promete não somente seu emprego de volta como uma vida sob os auspícios de sua crença.
gostei muito desse livro, apesar de achar uma certa superficialidade no trato com as questões espirituais. houellebecq consegue dar um certo dinamismo à trajetória de françois, sua busca pelos caminhos e escritos de huysmans e por fim, sua total submissão, sem reação alguma ao novo cenário em que está sendo envolvida toda uma nação. vale!
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