Título lido: O ano do macaco
Título original: Year do the Monkey
Autor: Patti Smith
Tradução: Camila von Holdefer
Lançamento: 2019
Esta edição: 2019
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 168
Classificação: 3.5/5
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“Não importava qual caminho trilhasse ou qual o plano, ainda era o Ano do Macaco. Ainda me movia no interior de uma atmosfera de brilho artificial com bordas corrosivas, a hiper-realidade de um deslizamento pré-eleitoral polarizado, uma avalanche de toxicidade se infiltrando em cada posto policial” (Posição no Kindle 1239/70%).
Após o excelente “Devoção”, é o “O ano do Macaco” que me delicio. É mais um livro da lavra de Patti Smith, a multiartista que, às vésperas de completar 70 anos, sai em turnê pelos Estados Unidos, matéria destas memórias.
Aliás, este livro não caberia na categoria de memórias, de romance autobiográfico. Isso porque, com seus múltiplos enfoques, percebemos um livro que mistura o onírico ao ensaio, a biografia às memórias, tudo junto e misturado. Estão presentes as excelentes alusões à literatura, à fotografia, aos lugares que evocam lembranças na cantora.
Dessas memórias, sempre envoltas nos amigos de longa data, Patti mistura o agora e o então ao ontem vivido ao lado do dramaturgo Sam Shepard e o músico Sandy Pearlman, seus para sempre amigos. Mas Patti é uma pessoa capaz de também criar laços com desconhecidos que vai conhecendo à medida que avança pelo território americano, figuras particulares que chamam sua atenção.
O livro pode parecer um tanto triste e melancólico, mas tem também arroubos de bom humor, de preocupação com a vitória de Trump (os fatos da obra se deram em 2016) e a postura apática dos americanos. Para Patti é o Ano do Macaco.
Apesar de não ser exatamente seguidor ativo das estrelas do rock, me identifico muito com o estilo de Patti, pois ela mexe com assuntos que para mim são caros e cativos. Sair pela estrada, fotografar objetos e lugares, congelando momentos marcantes, perder horas em cafés, contemplando o fim das tardes. Na escrita. Na própria solidão, essa formadora de arte e beleza, das coisas que atraem e nos envolve. Patti tem a capacidade de dar vida e interpretação a essas coisas e transmitir tudo num turbilhão de palavras cativantes, em especial estas muito bem traduzidas pela genial diva da crítica literária Camila Holdefer. Vale!
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