Título lido: Estorvo
Autor: Chico Buarque
Editora: Companhia das Letras
Lançamento: 1991
Esta edição: 2010
Páginas: 152
Classificação: 3/5
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“vejo a multidão fechando todos os meus caminhos, mas a realidade é que sou eu o incômodo no caminho da multidão (Posição no Kindle 971/71%).
dois foram os motivos que me fizeram retornar a este livro emblemático: primero pela recente conquista do prêmio Camões de 2019, e segundo, como o próprio título do livro, o resultado da insatisfação e azedume que estes dias tenebrosos têm me causado e me deixado mais ensimesmado. paciência.
estorvo é o primeiro trabalho literário de Chico Buarque, uma das excelências da MPB, e que li em meados de 1997, no auge da idade da arrogância. lembro que o livro me causou assombro, saí da leitura arrasado com o périplo de tantos suspenses vividos pelo personagem da trama. apesar da temeridade que sempre sinto em reler autores com bons e adelgaçados lapsos de tempo, o reencontro não foi diferente, o leitor como que é abocanhado pela cruzada fugidia de um homem anônimo que, ao perceber que está sendo importunado por um sujeito que viu pelo olho mágico de sua porta, tenta, de várias formas, fugir.
a possibilidade desse “estranho” ser um velho conhecido é o estopim para que o personagem passe por estranhas situações, quase todas voltadas para as memórias de infância: um sítio, atualmente ocupado por traficantes, um vago sentimento incestuoso pela irmã rica, uma relação quase homossexual com um amigo mais velho.
em ambas as leituras que fiz, chama a atenção a falta de explicações para o homem que causa todo o desenrolar do livro – quem era, qual o motivo da busca e da fuga e porque não apareceu novamente – são apenas algumas de tantas possibilidades não concretizadas em “estorvo”. daí esse estilo narrativo mais voltado para o devaneio, uma espécie de atmosfera sempre borrada, indefinida, uma névoa onírica permeando as ações e pensamentos do personagem fujão. estorvo se resume numa crônica de estranhezas, mas vale a lida, principalmente por se tratar do primeiro escrito de um grande autor/músico, como Chico é. dele, li ainda em fins de 2016 o também muito bom “Budapeste”. ambos valem!
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