Título: O pai morto
Título original: The dead father
Autor: Donald Barthelme (EUA)
Tradução: Daniel Pellizzari
Editora: Rocco
Ano de lançamento: 1975
Ano desta edição: 2015
Páginas: 260
Classificação: ⭐⭐⭐
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“Ele tem raiva de ter sido pequeno enquanto você era grande, mas não, não é isso, ele tem raiva de ter sido indefeso enquanto você era poderoso, mas não, não é isso também, ele tem raiva de ter sido contingente enquanto você era necessário, não é bem isso, ele está louco da vida porque enquanto ele o amava, você não percebia (pág 196).
A história é surreal: um cortejo para enterrar o Pai Morto, figura gigantesca que possui uma perna mecânica e não está totalmente convencida sobre o fim de sua existência. Através de cabos de aço, os responsáveis por carregar o pai são Thomas, filho que lidera o grupo, e sua namorada Julie. Juntam-se ao cortejo Emma, amante de Thomas, e o alcoólatra Edmundo, o outro filho, além de operários que ajudam no transporte – e demandam melhores condições de trabalho.
Durante a jornada, O Pai Morto –mesquinho e tirânico – questiona frequentemente sua morte física, elucubrando possibilidades para permanecer neste mundo.
Como se fosse um “todo poderoso”, ele tem a capacidade de matar animais e os próprios filhos, embora esteja sendo carregado por eles para um funeral.
São essas contradições nas relações entre pais e filhos e, num plano mais profundo, certa veneração ao existencialismo, as principais marcas desta obra, tão engraçada quanto desafiadora.
Não lembro de ter lido nada do tipo antes, um livro contendo tantos estilos literários, quebras de fluxo narrativo, expressões inusuais e dilemas existenciais ora sérios, ora pilhéricos e que, apesar de rir em várias partes indiscutivelmente risíveis, não mina em nada a complexidade do livro. Apesar dos tantos adjetivos achei um livro mediano, embora tenha certeza da releitura num momento oportuno. Se o escritor David Foster Wallace tinha Barthelme entre seus escritores prediletos, é porque há sim qualidade nessa prosa singular. Vale!
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