Título: Os Fatos – A autobiografia de um romancista
Título original: The Facts: A Novelist’s Autobiography
Autor: Philip Roth
Tradução: Jorio Dauster
Editora: @companhiadasletras
Ano de lançamento: 1989
Ano desta edição: 2016
Páginas: 240
Classificação: ⭐️⭐️⭐️⭐️
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“Julgamos o autor de um romance pela qualidade que demonstra ao contar uma história. Mas julgamos moralmente o autor de uma autobiografia, cuja motivação é sobretudo ética e não estética. Quão próxima a narração é da verdade? Será que o autor está escondendo seus motivos, apresentando seus atos e pensamentos a fim de desnudar a natureza essencial das situações ou tentando ocultar alguma coisa, dizendo com a intenção de NÃO dizer?” (pag 173).
Foi em abril de 2017 que li “Os fatos”, uma curta autobiografia de Philip Roth, de quem estou lendo metodicamente toda a obra literária que disponho. No livro lido anterior, “Operação Shylock” eu havia dito que pularia algumas obras pela recente leitura dos mesmos. Contudo, encontrando em Shylock alguns elementos que me deixaram curioso, resolvi ler os dois livros anteriores, o qual o “Os fatos” é o primeiro. Logicamente, reler Roth nunca é desperdício tamanha a densidade de seus livros, a cujas temáticas tempestuosas, suas múltiplas piadas e seu dom para expor emoção em forma de palavras, sempre me traz enlevo.
Os Fatos narra boa parte da vida do autor, desde sua infância na Newark até meados dos anos 60, quando Roth havia escrito “O complexo de Portnoy”. Nessa narrativa, quase sempre linear, mas com as características rupturas temporais do escritor, vamos sendo apresentados aos elementos que lhe deram base para praticamente toda a temática de sua literatura, desde quando a consciência de ser um judeu “norte-americano” foi sendo cristalizada como um tipo de empecilho para uma liberdade étnica amplamente desejada por Roth e que seriam recorrentes em seus livros.
Os conflitos entre filhos de judeus, moradores do bairro de Weekahic, e “americanos” de outros bairros, o ingresso na universidade, as primeiras polêmicas citadas nos primeiros contos do autor até o lançamento de sua coletânea “Adeus, Columbus”, ficamos sabendo um pouco de sua base de leituras, que certamente influenciaram sua criação artística.
Roth teve uma vida amorosa bastante agitada. Seja as varias namoradas que teve, os relacionamentos fortuitos, até o tempestuoso casamento com uma mulher neurótica e perseguidora, que trouxe uns bons anos de conflitos conjugais e judiciais, só encerrando com a morte dela, prematuramente, devido a um acidente automobilístico que sofrera, Roth buscou a companheira perfeita para o momento em que vivia.
O leitor é brindado com tantas frestas de realidade da vida do grande escritor que Roth foi. Sua formação moral, intelectual, suas relações amorosas, as polêmicas que causou com a comunidade judaica, o ambiente familiar que lhe deu base sólida para seguir em frente e se tornar um globetrotter na acepção da palavra, são alguns dos temas narrados. O livro ainda vem com uma pérola: cartas trocadas entre Roth e sua mais complexa criação, Nathan Zuckerman, que dos porões da inevitabilidade existencial, lhe dá um grande puxão de orelhas que é um primor.
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