Título: Tatuaje
Autor: Manuel Vazquez Montalbán (ESP)
Editora: Planeta
Ano de lançamento: 1975
Ano desta edição: 1995
Páginas: 286
Classificação: ⭐️⭐️⭐️⭐️
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“Sabía por experiencia que lo peor en una investigación era partir de una hipótesis. Puede condicionar el proceso de acceso a la verdad e incluso desviarlo” (Posição no Kindle 237/9%).
Faz dois anos estive na Colômbia, onde pude absorver os ares da Cordilheira. Na ocasião, em mais de uma vez, pude por em prática o rudimentar dialeto, aquela simbiose salva-vidas que é o resultado da mistura do português com o espanhol. É claro que a boa vontade do povo colombiano foi mais eficaz que minha necessidade de comunicação e ambas remediaram o dia a dia. Bueno.
Resolvi testar o legado absorvido quando se está imerso num idioma (no caso, não tem como não ser bombardedo pelo espanhol nos taxis, lojas, TV, etc.) lendo um livro em espanhol. Seguindo os deliciosos registros de leitura do meu amigo remoto Guina Médici (blog Livros que eu li), um leitor compenetrado de cousas castelhanas, busquei um do Manuel Vazquez Montalbán – prolífico escritor espanhol importante voz política contra as atrocidades franquistas na Espanha – para ler.
Tatuaje é o primeiro volume de uma longa série cujo personagem principal, o detetive Pepe Carvalho, há alguns anos já ex-agente da CIA, é contratado por um misterioso homem, Sr Ramón, para descobrir a identidade de um homem que fora encontrado boiando numa praia perto de Barcelona. Acontece que o desconhecido estava com o rosto totalmente desfigurado, tornando a ação ainda mais complicada, não fosse o fato de o afogado possuir uma tatuagem: “He nacido para revolucionar el infierno”. A empreitada leva Pepe a descobrir pistas pelos canais de Amsterdã, mas a aventura vai ficando mais perigosa quando o detetive topa com evidências de que o homem afogado era integrante do tráfico de drogas internacional. Os ambientes, os cheiros, a beleza plástica das “Pepegirls” Teresa e Charo, as Ramblas, todos ingredientes que deixam as descrições de Montalbán ainda mais deliciosas…
Sempre gostei de ler livros policiais. Gosto muito do Comissário Guido Brunetti, criação da escritora Donna Leon, a quem Pepe Carvalho tem alguns pontos em comum: são homens inteligentes e com sólida cultura (o episódio em que Pepe queima livros para manter sua lareira acesa não tem preço!), apreciadores de bons pratos, possuem uma veia humorística incomum para a sisudez da profissão (Pepe mais!), amante inveterado (Pepe somente, já que Brunetti é casado com a bela Paola e avesso a relacionados colaterais) e métodos de investigação que sempre causam no leitor aquele anseio por ver o mistério solucionado.
Apesar da barreira natural que é ler em outra língua, a experiência foi gratificante, tanto que já encomendei alguns outros livros da série Pepe Carvalho. Em espanhol, claro. Vale, e muito!
Paulo meu velho, como vais? Bacana saber que você teve a chance de ler o Montalbán em espanhol. E não deixe de ir guardando dinheiro para um dia ir lá nas Ramblas de Barcelona, ver Valvidrera, ver os mercados da cidade, passear no Raval e ver a praça dedicada ao Montalbán. Esses primeiros livros com o Pepe são os mais difíceis, depois as tramas ficam mais bem contadas e os diálogos mais afiados. Bom divertimento por aí. Grande abraço.