Título: Zuckerman libertado
Título original: Zuckerman unbound
Autor: Philip Roth (EUA)
Tradução: Alexandre Hubner
Editora: @companhiadasletras
Ano de lançamento: 1981
Ano desta edição: 2013
Páginas: 240
Classificação: ⭐️⭐️⭐️⭐️
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“Que espécie de ficção vai escrever assim? Se a vida da alta-roda com a Caesara não deu certo, que tal a da ralé? Onde foi parar a sua curiosidade? Onde está o sujeito divertido que você costumava ser? Contra quem você cometeu qual afronta passível de punição a ponto de agora ter de andar às escondidas, como um foragido da Justiça?” (Posição no Kindle 3948).
“‘Terminado’, pensou. Todo sentimento lírico que nutria por aquele lugar, ele despejara em Carnovsky. Assim tivera de ser – não havia onde mais despejá-lo. ‘Terminado. Terminado. Terminado. Terminado. Terminado. Cumpri a minha pena'” (Posição no Kindle 5048).
“(…) e foi isso que pôs fim à coisa. Você já não é filho de homem algum, já não é marido de uma boa mulher, já não é o irmão do seu irmão e também não veio de lugar nenhum” (Posição no Kindle 5065).
Ler um autor na ordem cronológica de sua bibliografia é um deleite sem igual. Vc facilmente percebe a evolução do autor, identifica as obras de fato relevantes, se aprofunda no estilo de sua escrita. Lembro que, ainda estudante secundário, li todo os romances de Machado de Assis na ordem de publicação. Foi uma experiência ímpar em minha vida de leitor disciplinado. Machado foi mestre, certamente o maior romancista brasileiro. Uma pena que a barreira da língua tenha impedido o autor de Memórias póstumas de Brás Cubas de ser amplamente conhecido lá fora…
Diferente de Machado, a cujos primeiros romances você identifica histórias medianas (como Iaiá Garcia e Helena) e maravilhosas (Dom Casmurro, Quincas Borba), em Roth a elegância do estilo, a complexidade dos personagens e os temas espinhosos estão presentes desde Adeus, Columbus, seu primeiro livro.
Seguindo a sequência da obra de Roth, acabo de ler “Zuckerman libertado”, parte da coletânea de três romances onde figuram o seu alter ego, Nathan Zuckerman, iniciada com O escritor fantasma.
Se em “O escritor fantasma” vemos um jovem aspirante a escritor que vai visitar seu ídolo literário, E. I. Lonoff, buscando orientações sobre o processo de escrita e que acaba envolvido nas brigas entre Lonoff e sua mulher, provocadas principalmente pela presença de outra jovem admiradora do escritor, em Zuckerman libertado, a ação se passa anos depois do romance anterior, quando Nathan já é um famoso escritor. Acaba de receber um importante prêmio pela obra Carnovsky (romance que causou muita polêmica por retratar com tintas nada amigáveis uma família judia e os hábitos sexuais do jovem que empresta o nome à história), o que lhe proporciona morar num belo apartamento e ter contato com celebridades. Encontra, por outro lado, os dissabores, como a confusão que sua família e alguns admiradores fazem entre a vida da personagem e a vida do próprio autor. O título é paradoxal, na medida em que Zuckerman está preso dentro da própria fama e das coisas que escreveu.
Zuckerman libertado é um romance muito melhor que O escritor fantasma. Zuckerman, como que está perdido, atado a laços emocionais controversos e posturas que não se combinam com sua atual condição de homem rico e famoso. Ali ele vive a tensão de ter de decidir qual caminho seguir. Quer conquistar o mundo, mas a personificação de seu passado o atormenta, primeiro com um fã possessivo e ameaçador que lhe incomoda e depois quando da morte de seu pai. Nesse ponto do livro, Zuckerman finalmente se dispõe a abandonar de vez esse sombrio passado que o tolhe. A “liberdade” depende da volta ao cerne, onde tudo começou, e ele vai a Newark, e, encontrar a cidade da sua infância tão mudada o faz perceber que tudo que o prendia era, na verdade, uma âncora que não existe mais. Recomendo vivamente!
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