Título: Badenheim 1939
Título original: Badenheim Ir Nofesh
Autor: Aharon Appelfeld (Romênia)
Tradução: Moacir Amâncio
Editora: @amarilyseditora
Ano de lançamento: 1978
Ano desta edição: 2012
Páginas: 180
Classificação: ⭐️⭐️⭐️
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“Todos os dias chegavam novas pessoas. Descendentes daqueles que haviam deixado Badenheim. A praga que havia na cidade os perseguira todo o tempo e agora os apanhava. Eles erravam pelo vazio paralizante da cidade e se perdiam nela” (Pág 127).
“No boné estava aplicado um W de metal. (…) Era uma mala já muito gasta e há pouco tempo haviam gravado nela a letra W e o número serial” (Pág 160).
Tomei conhecimento do escritor Aharon Appelfeld ao ler o excelente “Entre nós”, onde Philip Roth reúne entrevistas com amigos e colegas escritores. Busquei logo adquirir o Badenheim 1939, citado ali, pela simpatia natural que nutro pelos “escritores sobreviventes” do Leste Europeu, a exemplo de Ivan Klima, Milan Kundera e Primo Levi e pelo que foi dito pelo próprio autor à Roth.
Não posso dizer que foi um livro fácil de ler. Apesar de relativamente pequeno (tem só 176 páginas), o tema, duro e perturbador, torna a experiência difícil e indigesta. Além do mais, por não ser exatamente um livro “histórico”, o autor parte do princípio de que o leitor saiba alguma coisa das ações nazistas contra judeus.
A temática de Badenheim 1939 é um misto de quimera e realidade, concebida por Appelfeld como uma espécie de esclarecimento às tão odiosas formas como eram vistos os judeus, “criaturas ágeis, espertas e sofisticadas, cheias de sabedoria mundana”.
Badenheim, o título, de fato existe no interior da Alemanha, uma espécie de balneário onde muitos judeus costumavam passar o verão. Ali, cercados pelo clima agradável e a atmosfera burguesa, muitos judeus acorriam às suas águas termais e a merecidas pausas da rotina. Num cenário assim meio bucólico, meio paradísico, Appelfeld descreve a forma como o sinistro modus operandi nazista de forma sutil confinara enormes levas de judeus, que sucumbiram ante engodos e truques quase que infantis, aos guetos. Essa ingenuidade é amplamente explorada pelo autor, ao descrever o permanente estado de apatia e aparente ingenuidade da comunidade judaica em Badenheim.
O livro é construído com capítulos curtos, frases diretas, sem enrolação. O leitor como que fica atônito em como os moradores judeus não percebem que algo de sinistro os está espreitando, cerceando-os em meio aos anseios musicais e artísticos do balneário. Uma atmosfera amordaçada vai se ampliando ali, os dias vão sendo sufocados e a ingenuidade dos judeus de Badenheim chegam ao ápice quando da chegada do trem que os levaria, enfim, a algum campo de concentração nazista. A última frase do livro diz tudo (não constitui spoiler!):
” – Se os vagões estão tão sujos, isso significa que o trajeto não será denorado” (Pág 176).
Uma frase certamente cheia de significados, nenhum deles, tenho certeza, bom.
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