Título: Nora Webster
Título original: Nora Webster
Autor: Cólm Tóibín (Irl)
Tradução: Rubens Figueiredo
Editora: @companhiadasletras
Ano de lançamento: 2014
Ano desta edição: 2015
Páginas: 400
Classificação: ⭐️⭐️⭐️
_______________________________________________
“Não era a solidão que ela vinha enfrentando nem os momentos em que sentia a morte do marido como um choque em seu organismo, como se estivesse num carro que sofreu um acidente; era, sim, aquele movimento à deriva num mar de pessoas com a âncora levantada, tudo parecendo estranhamente desconcertante e sem propósito” (Posição no Kindle 2978/54%).
Depois de “O testamento de Maria”, eis que concluo mais um livro do escritor irlandês Cólm Tóibín. Conta a história da personagem que dá título ao romance, que aos 40 e poucos anos se vê viúva de Maurice, professor respeitado na cidade, que morre subitamente, deixando-a com quatro filhos para criar.
Por si só a temática seria por demais frugal, não fosse as nuances com que Nora nos é apresentada. e as várias inferências que Tóibín vai dando à narrativa. De como ela, que apesar de ter sido uma garota “difícil” de lidar, conforme sabemos já no final do romance, mas que por viver numa cidadezinha no interior da Irlanda dos anos 1960, onde todos se conhecem e cujos preconceitos arraigados tornam a nova condição de Nora por demais difícil. Isso porque Nora viveu um casamento feliz. E por isso mesmo criou uma forma “espelhada” de viver, uma espécie de repetidora das decisões e ações do marido. Some-se a isso o agravante fato de que a intromissão exacerbada dos parentes, amigos e vizinhos na forma como Nora irá lidar com a casa, a educação dos filhos e de si mesma.
A narrativa, quase que linear em sua totalidade, mostra o olhar atento de Tóibín por Nora, e me convenceu a habilidade do escritor em construir uma personagem tão lindamente bem, traçando nuances e a lenta mas gradual transformação da Nora acomodada ao confortável papel de esposa e do lar para uma mulher arredia, às vezes intransigente e hostil, capaz de romper – aos olhos de todos – paradigmas que irão causar sem dúvida a simpatia ou antipatia da cidade onde ela vive.
Apesar de estas páginas sempre girarem em torno de Nora, há um enfoque – ainda que tênue – em como os parentes e amigos vêem Nora e sua atual condição, como sendo algum tipo de estorvo, um fardo que incomoda e de quem eles terão de carregar. Mas um contra-senso que percebi no romance é que ao mesmo que aqueles que a vêem como um “peso morto”, a criticam por Nora dar mostras de que pode ser independente e capaz de conduzir sua vida e a dos filhos. É quando percebemos o quanto ela tem de enxotar as pessoas que a renegam mas a julgam. Numa situação assim nossa personagem principal teria mesmo de expressar a passagem que destaquei aqui acima, no início, por sinal, das mais profundamente tristes e fortes, como a evidenciar a ambígua e nova condição em que Nora se encontra.
Vai gostar do livro leitores que se deleitam em romances cujo ponto central seja a metamorfose porque uma pessoa passa, evidenciando para todos que mesmo uma vida pacata e perfeita pode sair dos trilhos e é aí, diante das crises, quando é exigida uma mão firme e uma vontade incomum, onde as pessoas aparentemente fracas ou opacas se mostram fortes e “mais humanas”, como certamente Nora é.
Deixe um comentário