Título: Todos os belos cavalos
Título original: All the pretty horses
Autor: Cormac McCarthy (EUA)
Tradução: Marcos Santarrita
Editora: @editoraalfaguara
Ano de lançamento: 1992
Ano desta edição: 2017
Páginas: 270
Classificação: ⭐️⭐️⭐️⭐️
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“Dentro do arco das costelas entre suas pernas o negro coração pulsava segundo a vontade de quem e o sangue latejava e as entranhas se mexiam em suas maciças circunvoluções azuis segundo a vontade de quem e os fortes ossos das coxas e joelhos e canelas e os tendões parecendo amarraa de linho que puxavam e dobravam e puxavam e dobravam suas articulações segundo a vontade de quem envolta e abafada na carne e nos cascos que abriam rombos na neblina rasteira da manhã e na cabeça virando de um lado para outro e no grande teclado escravizante dos dentes e nos globos quentes dos olhos onde o mundo ardia” (Posição no Kindle 2348/42%).
Todos os belos cavalos, do escritor americano Cormac McCarthy, pode ser considerado uma obra prima. Ambietado na fronteira entre o Texas e o México, narra a história de John Grady Cole, que parte a cavalo com seu amigo e companheiro Lacey Rawlins para o território mexicano na metade do século, em busca de algo que o compense de duas grandes perdas: a desagregação familiar e a derrocada de seu ideal de tornar-se rancheiro como seus antepassados. Exímio cavaleiro, ele se vê domando potros selvagens numa hacienda mexicana, perdidamente apaixonado por Alejandra, filha do proprietário e lançado numa aventura sangrenta em que só os mais fortes sobrevivem.
A vigorosa prosa de McCarthy eu já tinha experimentado em outro romance seu, “Onde os velhos não têm vez”, igualmente excelente, mas bem mais sangrento e que trouxe de volta o gosto pelos romances western. Mas, diferente do anterior, “Todos os belos cavalos” vai ainda mais além, tanto na beleza em si, na construção de personagens fortes, cuja sabedoria adquirida com o trato com a terra e os animais não deixa de trazer profundas reflexões sobre a vida. O leitor como que fica encantado com a ligação entre homem e cavalo, numa harmoniosa co-existência.
Todos Os Belos Cavalos é o primeiro volume da Trilogia da Fronteira, formada ainda pelos “A travessia” e “Cidades das planícies”. Nesse primeiro volume são tratados temas como o desencanto com o sonho americano, a busca pela sobrevivência, a descoberta do amor e o amadurecimento de um homem, tudo isso tendo como pano de fundo a natureza selvagem na sua mais pura rusticidade.
É um livro perfeito. Aquela agilidade nas frases que quem já leu algum livro do McCarthy saberá a que me refiro. Repleto de passagens que merecem ser destacadas, tamanha a sua beleza marcada pela dor, pelo desespero, pela resignação e pelo apreço àqueles que vão promovendo tanto encanto como são os cavalos.
“Cavalgou com o sol acobreando-lhe o rosto e o vento rubro soprando do oeste a terra noturna e os passarinhos do deserto voavam chilreando entre as samambaias secas e cavalo e cavaleiro e cavalo seguiam em frente e suas longas sombras passavam engatadas como a sombra de um único ser. Passavam e empalideciam na terra a escurecer, no mundo a vir” (Posição no Kindle 5465/98%).
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