Título: A viagem vertical
Título original: El viaje vertical
Autor: Enrique Vila-Matas (ESP)
Tradução: Laura Janina Hosiasson
Editora: Cosac & Naify
Ano de lançamento: 2004
Ano desta edição: 2004
Páginas: 256
Classificação: ⭐️⭐️⭐️
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“Desde sempre os homens têm ouvido vozes que os impelem a partir, dizendo-lhes que será por pouco tempo ou talvez para não voltar jamais. Desde sempre existiram vozes expulsando-os do conforto, sem saberem nunca muito bem que carta escolher, ou seja, se poderiam deixar de escutar, sem risco, o chamado das vozes ou se na viagem os aguardaria o mesmo silêncio trágico das noites intermináveis de seus lares” (pág 81/iBooks).
A história é prosaica: um septuagenário catalão, Federico Mayol, que se vê abandonado pela mulher, ignorado pelos filhos e amargurado pela ausência de significado para sua vida, cai numa vertiginosa queda. Todas as coisas que construiu – família, uma bem sucedida empresa de seguros, uma considerável fortuna e um relevante legado de política nacionalista, de repente perde o sentido, se tornam meras memórias circunstanciais. Ele sofre uma brutal interrupção de existência quando, ao eclodir a guerra civil espanhola, se vê impedido de acessar o ensino acadêmico e, de certa forma, o romance do criativo e prolixo escritor espanhol gira em torno dessa “deficiência” educacional.
A narrativa de Vila-Matas espelha ainda uma preocupação com as memórias e o que com elas fazemos, aproximando-nos ou não, dos outros e de momentos que podem ter sido decisivos. O livro inteiro funciona como uma viagem de regresso e nessas deambulações, sente-se uma nítida crítica social, uma constante avaliação da vida conjugal e da paternidade, além de fazer referências constantes à religião e a fé, a política e a ditadura e, principalmente o peso da formação e da educação.
Vila-Matas é um escritor sofisticado. E, apesar de ser esta minha primeira incursão em sua literatura (tenho aqui no plástico outros dois livros seus), é facilmente perceptível a força de sua prosa, as inferências que se revolvem na caminhada quase solitária de Mayol e, sobretudo, em como esse fascinante personagem consegue promover no leitor que decidir acompanhá-lo nessa viagem rumo à derrocada um belo e indiscutível mergulho na arte de viver.
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