Título: Altos voos e quedas livres
Título original: Levels of life
Autor: Julian Barnes (GBR)
Tradução: Léa Viveiros de Castro
Editora: @editorarocco
Ano de lançamento: 2013
Ano desta edição: 2014
Páginas: 128
Classificação: ⭐️⭐️⭐️
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“Essa ponte inofensiva passou a simbolizar uma parte do nosso futuro perdido, todos os impulsos e segmentos e digressões da vida que agora não iríamos mais compartilhar; e também as coisas que ficaram por fazer no passado – as promessas não cumpridas, as desatenções e indelicadezas, os momentos de frustração” (Posição Kindle 930).
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Em mais um romance, este de 2013, o escritor britânico Julian Barnes consegue condensar em palavras o sentimento da alma. Eu já tinha lido o excelente “O sentido de um fim”, romance que lhe conferiu o Book Prize de 2011, e que traz em suas páginas a história de um homem em busca da reconciliação com seu passado. Ali, já pude sentir a força da prosa de Barnes, uma espécie de conversa com o leitor, uma estranha necessidade de buscar o favor ao menos de um único ouvinte. Resolvi ir atrás de outros títulos seus e escolhi o não menos excelente “Levels of life” (título que perdeu, creio eu, um pouco do sentido ao ser traduzido para “Altos voos e quedas livres”).
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O livro, dividido em três partes, narra os fatos ligados à evolução do balonismo e à fotografia em grandes alturas pioneiramente praticada por Feliz Nadar. Nadar era casado com Ernestine, que acabou sofrendo um derrame que a deixou severamente incapacitada. Nadar, apesar de boêmio e mulherengo, não deixou de estar junto à sua esposa durante os dias de convalescença e que morreria tempos depois.
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Na segunda parte, Barnes narra o quase romance entre o militar Fred Burnaby e a atriz Sarah Bernhardt. Isso porque apesar do amor que Burnaby devota a Sarah, esta o rejeita sem ao menos considerar. Ambos morreriam tempos depois, separados e sem nunca fazerem a sonhada viagem de balão sobre o Canal da Mancha.
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Na terceira e última parte do livro Barnes arremata o romance com o sentido da solidão. Ele a define como sendo duas: “a que resulta de não se ter encontrado ninguém para amar” e “a que resulta de ter sido privado da única pessoa que amou”. É claramente a parte do livro mais autobiográfica, onde o romancista aborda a perda de sua esposa, Pat Kanavagh, morta em 2008 vitimada por um câncer que a consumiu por exatos 37 dias.
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Repleta de alegorias e aforismos sobre o sentido da presença do outro, o romance de Barnes vai arrematando o pedaço final do livro com a solidão, as lembranças e a memória de uma relação que durou por três décadas. São páginas muitos bonitas, que inevitavelmente levam o leitor à reflexão do sentido da existência do ser amado, das coisas que foram feitas juntas e daquelas – como o trecho citado no início dessa mini-resenha – que por não terem sido realizadas juntos, deixaram um vácuo de incertezas e um certo desprezo pelos objetos que de certa forma simbolizam essa perda. Barnes, repito, me cativou pela grande semelhança com a prosa de Graham Greene, um de meus escritores preferidos, mas com uma pitada de realidade numa prosa tão cheia de humanidade como é a dele.
Livro lido – Altos voos e quedas livres, de Julian Barnes
24/03/2018 por Paulo Sousa
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