Título: Passageiro do fim do dia
Autor: Rubens Figueiredo (Brasil)
Editora: @companhiadasletras
Publicado: 2010
Páginas: 193
Minha classificação: ⭐️⭐️⭐️
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Foi por puro acaso que topei com este livro, o Passageiro do fim do dia, e meu espanto maior se deu ao ver que o autor era o Rubens Figueiredo.
O Rubens eu conhecia das excelentes traduções que fez e faz, a exemplo de Paul Auster e vários clássicos russos como o portentoso Guerra e Paz de Tolstói, na bela edição da Cosac Naify.
Pois fui buscar e vi que de fato o tradutor também era escritor e meu deleite aumentou logo nas primeiras páginas desse quase romance…
Passageiro do fim do dia conta a trajetória de Pedro, um vendedor de livros usados, na sua — quase diária — viagem de ônibus do centro para o bairro do Tirol, no Rio de Janeiro. Para muitas pessoas ir e voltar nas intermináveis viagens são um martírio diário, os lugares e paisagens como que se tornam um imenso bloco sem cor nem detalhe. Mas não para Pedro. Sua percepção é acurada, detalhista nas páginas de Figueiredo. Ele não exita em focar alguma nuance dessa viagem, cada pessoa que vai compondo a fila de pessoas à espera do ônibus para o Tirol, o que cada uma faz para minimizar a espera, onde elas põem seus olhos, seus gestos… nada passa ao atento olhar de Pedro.
Logo a viagem para o Tirol começa e Pedro vai desfiando suas impressões em tudo que põe os olhos. Talvez para muitos essas descrições detalhadas se tornem algo negativo no livro mas para mim o brilhantismo do livro de Rubens está em como somos amortizados pela rotina, e pior, acabamos nos tornando personagens ineptos da nossa realidade. Pedro, embora um espectador distante e impessoal, ao perceber algum detalhe naquela ida ao Tirol, como que nos leva para outros momentos de sua vida, o namoro com Rosane, o dia que teve a perna esmagada por um cavalo durante um confronto entre polícia e manifestantes, as frustrações da namorada que sonha em melhorar de vida, a mal fadada carreira do “Trinta”, um ex-soldado da Aeronáutica. Tudo permeado pelos sacolejos irritantes do ônibus em que se deixa levar.
Em dado momento Pedro percebe que há uma novidade na viagem tantas vezes feita: por motivos desconhecidos, o ônibus que o conduz tem de mudar sua rota normal, cortar por um atalho e pior, não vai até o ponto final, onde Pedro esperava descer. Protestos individuais, irritações nas caras dos demais passageiros são perceptíveis, a incerteza de como se chegar em casa por essa nova rota, um burburinho de desagrado passa de passageiro em passageiro. Pedro, mesmo cansado e apreensivo, não perde a oportunidade de ler mais uma página de um livro sobre Darwin. E, semelhante ao cientista e desbravador inglês, Pedro vai fazendo suas incursões próprias, analíticas ao extremo em busca de algo que aparentemente não sabe, mas que o Tirol com certeza vai contribuir. Recomendadíssimo!
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