Título: A amiga genial: infância, adolescência (Série Napolitana 1)
Título original: L’amica geniale: infanza, adolescenza
Autor: Elena Ferrante
Ano de publicação: 2015
Tradução: Maurício Santana Dias
Editora: Biblioteca Azul (@globolivros)
Páginas: 336
Minha classificação: ⭐️⭐️⭐️⭐️
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Meu primeiro contato com a escrita da Ferrante se deu com “A filha perdida”, um drama que narra os acontecimentos durante as férias da professora Leda no litoral sul da Itália. Naquela leitura, dinâmica e de uma fluidez poeticamente maravilhosa, já percebi o porquê do alvoroço literário em torno de sua obra.
Uma amiga remota do Instagram, quando lhe dissera tencionar começar a ler a Série Napolitana, me advertiu que poderia estranhar o ritmo da tetralogia, segundo ela muito menos dinâmico que em outros livros da Ferrante.
Contudo, após a leitura de “A amiga genial”, tenho de admitir justamente o contrário do que ela mo dissera: a dinâmica arrebatadora da escrita de Elena Ferrante a sorvi também nesse início de série, tão bom de ler, tão simplório mas de um deleite incomum. E essa dinâmica não está na multiplicidade de acontecimentos e fatos em torno da história. Mas na habilidade da autora em contar e no próprio ritmo de palavras, ali confundidas e entranhadas nos pensamentos de Elena Grecco, a narradora no livro.
Lenu, como é conhecida, decide, após Rafaella (ou Lila) Cerullo sumir, relembrar o passado e reconstruir a história em torno da amizade das duas, iniciada na infância em comum vivida num subúrbio da Nápoles dos anos 50. Ali, num ambiente pobre, marcado por famílias desestruturadas e até violentas, Lila, recém-chegada, toma o centro das atenções no bairro e principalmente da vida de Lenu. Enquanto esta é uma menina estudiosa, bem comportada e cheia de sonhos, muitos dos quais ficar rica escrevendo livros, Lila é explosiva, mal comportada, às vezes me parecendo até selvagem. Lenu logo vê na amiga o que lhe falta: a coragem, a intempestividade e a ousadia, a inteligência genial, traços que por não os possuir a faz muitas vezes sentir-se deprimida, derrotada, incompleta. Logo ela percebe que essa incompletude é mitigada com a presença feroz da amiga, que à medida que vai entrando na adolescência, vai conquistando também os olhares nada cândidos dos outrora garotos da vizinhança.
Este primeiro volume de um total de quatro narra as descobertas, as frustrações, o nascimento do amor dessas duas amigas tão diferentes na essência, mas, que, percebe-se logo, impossível de vê-las uma sem a outra. Um livro deveras forte, emocionante, impossível de largar, tamanha a sedução que empesta a mente do leitor. Tanto pela forma como Lenu se expõe quanto às profundíssimas análises que ela faz de si mesma, do lugar onde vive e tenciona se libertar até o incerto futuro sem a presença marcante de Rafaella, que ela tanto teme. Então, no ápice do fim do livro, dadas as reviravoltas na festa que em si marcariam a desconexão de Lila da vida de Lenu, me pergunto: o que será dessa menina tão intensa, tão genial, mas tão presa que está à amiga?
Melhor emplacar a leitura do próximo volume.
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