Título: Patrimônio
Título original: Patrimony: A true story
Autor: Philip Roth (EUA)
Ano de publicação: 1991
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 192
Minha classificação: ⭐️⭐️⭐️⭐️
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Gosto particularmente de uma frase de Hemingway, quando ele afirma que a literatura depende — em parte — de o escritor ter uma vida triste.
Pensando nisso, ou Philip Roth, o notável e mais importante escritor americano vivo, teve sua existência marcada por nefastas dores ou sua genialidade e maestria na escrita fizeram dele o que é, fê-lo mostrar o lado mais cinzento do ser humano.
Em mais um livro seu, do qual concluo a leitura, esse pensamento me vem à mente, mas muito maior é a certeza de que estou deveras sorvendo as qualidades literárias do maior escritor da literatura contemporânea, desde Machado de Assis e Gabriel Garcia Marquez!
Patrimônio, publicado originalmente em 1991, conta a história verídica de seu pai, Herman Roth, quando em seus últimos anos de vida e já octogenário, descobre que tem um tumor na cabeça que faz seus últimos meses se tornarem um verdadeiro martírio para o velho e para o filho expectador.
Assim como seus outros livros que li (O avesso da vida, Nêmesis, A marca humana e Homem comum), mesmo o relato final da vida de seu pai vem repleto da musicalidade hedonisticamente doída tão comum em sua escrita. O mestre em “captar a identidade e angústia americanas” dessa vez o faz com algum comedimento num livro curto e sóbrio, sem aquele ar corrosivo e irônico presente em outros livros seus.
Como se fosse uma espécie de ode ao pai prestes a partir (que me remeteu sempre ao Quase Memória do Carlos Heitor Cony, outro livro amado) Philip Roth expõe em alternâncias de tempo e espaço, a caminhada do velho Herman, sua perspicácia em suprir sempre as necessidades da família, as amizades feitas na Newark dos anos 30 e que duraram por décadas, os resquícios de outros tempos contados ao redor da mesa, até a derradeiro arrependimento por não estar presente quando Phil se submete a uma cirurgia cardíaca.
Sim, é mais um livro triste, uma soberba homenagem ao velho pai que, fatigado das barbaridades causadas pelo tumor que teima em crescer e esmagar seu cérebro ainda jovial. É ali, em meio aos tantos dissabores e sintomas ligados às subsequentes disfunções que seu corpo esquálido vai apresentando que Roth filho percebe qual, na verdade, é o seu legado, seu patrimônio. Em meio às ternas lembranças magistralmente termina seu livro juntamente ao suspiro final daquele que, por toda uma vida, soube ser e foi o seu pai.
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