Título: O Estrangeiro
Título original: L’étranger
Autor: Albert Camus (Argélia)
Ano de publicação: 1942
Editora: BestBolso
Páginas: 110
Minha classificação: ⭐️⭐️⭐️⭐️
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O objetivo de ter concluído a leitura do romance de Camus é justamente pela referência de O estrangeiro no livro do também argelino e escritor, Kamel Daoud, “O caso Meursault”, este que vou ler já logo em seguida.
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Mas.
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Apesar de buscar uma referência e ponte para entender melhor a leitura que farei do romance de Daoud, O Estrangeiro me tocou deveras. Apesar de não ser meu primeiro contato com a literatura de Camus (li outro aclamado livro seu, “A Peste”, nos idos de 1998, que pretendo reler em breve…), o curto romance da trajetória de Meursault me tocou por sua beleza, mesmo sendo um livro triste, onde é saudada a “divina disponibilidade do condenado à morte”.
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Meursault, funcionário de um escritório, é apresentado logo no início do livro recebendo a trágica notícia da morte da mãe. No dia seguinte, inicia um romance com Marie e a leva ao cinema. A partir daí seus dias continuam mantendo a mesma insipidez, até que ele se vê tudo acabar quando deixa que o acaso de um dia muito ensolarado o leve a cometer um assassinato à queima roupa. A partir daí, o romance explora todo o cabedal psicológico da personagem, cuja passividade e insensibilidade o levam à uma condenação absurda.
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Quem ler esse livro diminuto pode achar o enredo bastante simples. Foi o que achei, pelo menos nas primeiras trinta páginas. Mas, com o olhar atento de um leitor crítico você começa a perceber que há muito mais que narrar as agruras de alguém que está sendo julgado, mas consciente ou não, sequer se importa com o destino que o tribunal vá deliberar sobre o futuro de Meursault (diante da estranha passividade de Meursault algumas vezes me trouxe à memória o mesmo comportamento em “Storner”, de John Williams), mas é claro que o livro vai além.
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Você vai sentindo uma gradação estilística à medida que chega o dia do resultado do julgamento de Meursault, percebe que por trás do dar de ombros dele é revelado justamente esse “estrangeiro”, essa consciência esvaziada dele, uma recusa consciente de estabelecer qualquer vínculo sentimental ou racional, levando-nos a pensar no absurdo da tragédia genialmente criada por Camus. Este é, decididamente um livro para se ler muitas vezes, pois há muita coisa para ser absorvida!
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Tenho ouvido boas críticas ao livro de Kamel Daoud, uma espécie de visão “da outra parte” em relação à Meursault. Mas há um mérito especial a “O Estrangeiro” que não posso negar, principalmente por ser parte da lavra do vencedor do Prêmio Nobel de 1957.
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