Título: A filha perdida
Título original: La figlia oscura
Autor: Elena Ferrante (Itália)
Tradução: Marcello Lino
Ano de publicação: 2006
Editora: Intrínseca
Páginas: 176
Minha classificação: ⭐️⭐️⭐️⭐️
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Os livros de Elena Ferrante, a obscura e misteriosa escritora napolitana, têm estado na boca do povo, ou melhor, dos leitores brasileiros. A tetralogia napolitana, talvez sua obra mais expressiva, está entre os livros mais lidos e positivamente comentados dos últimos meses.
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Resolvi, movido por esse furor literário, ler algo dela, e acabei pegando este pequeno “La figlia oscura”, A filha perdida, e, confesso, não parei de ler até terminá-lo! O livro, de uma beleza ímpar, tem um dinamismo incomum, não tem nada a ver com “ação”, movimento ou mesmo aquele suspense tão próprio da literatura policial. O dinamismo desse livro está justamente na fala da narradora, Leda, uma professora universitária que está passando suas férias numa com certeza paradisíaca praia do litoral italiano.
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Entre os dias passados em baixo de seu guarda-sol, Leda percebe o constante movimento — e barulho — de uma típica família napolitana, não muito distante de onde costuma ficar. Ela começa a analisar os tipos, sujeitos expansivos, crianças irrequietas, que abertamente contrastam com a pequena Elena, cuja boneca inseparável, chama ainda mais a atenção da nossa narradora.
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Um episódio quebra aquela monotonia: Elena além de ser perder de sua mãe, Nina, ainda acaba deixando em algum lugar a boneca Nani (um entre os vários nomes que ela tem), o que começa um angustiante suspense na trama de Ferrante.
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Leda, percebendo tudo, sai à procura de Elena, mas, antes de encontrá-la, topa com a boneca esquecida na areia da praia e a guarda….
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Aparentemente simples, o enredo de A filha perdida parece ser uma leitura banal, mas digo que não! Antes a trama é fiada com as impressões mais complexas de Leda, seu passado esfacelado, o abandono consciente das suas duas filhas e do marido, o auto-isolamento em busca de respostas que ela, talvez jamais encontraria. A delicadeza e sinceridade dos pensamentos de Leda, dua coragem de mostrar-se como é, seu olhar atento, os paralelos interessantes que ela traça entre Nina e sua filha e a sua própria relação com as filhas, a penúria emocional com que está presa e que a aniquila e logo vai fazendo-a sentiro peso das consequências de seus atos, são elementos sólidos de um livro curto, mas tremendo.
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Agora posso entender um pouco o porquê de tanto alvoroço em torno dos livros de Elena Ferrante (quem será ela?). E, se já sentia o desejo de conhecer sua tetralogia, muito mais agora, ao encontrar em A filha perdida, não a embromação comum de alguns novos autores no afã de promover seus livros, mas uma deliciosa prosa cheia de VIDA.
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