Livro lido 6°/Fev//12°/2017
Título: A rua das ilusões perdidas
Título original: Cannery Row
Ano de publicação: 1945
Autor: John Steinbeck (EUA)
Editora: BestBolso
Páginas: 192
Minha classificação: ⭐️⭐️⭐️
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Este é meu primeiro contato com a obra do Nobel de Literatura de 1962, John Steinbeck, o aclamado autor de “As vinhas da ira”. É um livro simplório, não traz príncipes ou nobres, mas o retrato de pessoas comuns, pobres, vagabundos e prostitutas, o pequeno comerciante que vende de tudo, do profissional liberal que se utiliza da ciência para ter seu ganha-pão.
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Nesta pequena novela, a história gira ao redor do universo da rua chamada Cannery Row. Como qualquer lugar do mundo, Cannery Row é uma espécie de microcosmo pululante de vida, onde os habitantes de sua pouca extensão trazem, a seu modo, a simplicidade extraída das suas ilusões próprias na forma como deixam a vida tomar rumos próprios e independentes.
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Tendo como personagem principal Doc, uma espécie de cientista que gasta seu dinheiro e tempo em capturar e analisar animais para institutos de pesquisas, a vida de Cannery Row é dividida entre o “Laboratório” e suas saídas corriqueiras à costa, onde pode recolher crustáceos e polvos, o armazém do ambicioso e mesquinho Lee Chong, no boldel de Dora e no casarão abandonado chamado de Palace.
Doc faz ainda as vezes de farmacêutica e veterinário, costumando ministrar remédios aos demais moradores de Cannery Row, humanos ou não, e por isso mesmo, é tido em alta conta, principalmente pelos rapazes do Palace, o casarão abandonado onde residem Mack, Gay, Hughie e os demais.
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Aliás, esse curioso bando de desocupados são os responsáveis por muitas páginas divertidas no livro,onde pude rir bastante com a “cara de pau” deles toda vez que tentavam dar o golpe em troca de uns goles de uísque barato. A relação dos rapazes do Palace com Doc muitas vezes impeliram-nos a sair pelos charcos em busca de rãs e gatos, mas as tragicômicas festas que deram em homenagem a Doc me fizeram pensar no estranho código de ética que permeia em qualquer grupo, e em quão grandes podem ser os problemas quando se ajuntam vários homens bêbados num ambiente fechado…
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Como é de se esperar Cannery Row também tem seus malogros. As ilusões se tornam mais evidentes à medida que cada personagem experimenta a decadência, a sua própria e dos demais. Talvez pela própria limitação imposta a todos, dali se extrai também seu escape. Seja na mesquinhez de Lee Chong, o chinês dono do mercado local, seja nos moleques de rua sempre buscando uma vitrine para estraçalhar, sejam nos porres provenientes da estranha mistura do cântaro de Eddie, importa que notemos esses laivos de vida, nem sempre perfeita sob a ótica burguesa, mas a seu próprio modo.
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A simplicidade na escrita de Steinbeck, essa mistura de lirismo, cor, sabores e sensações, além de expor a constante sinestesia provenientes dos animais e outros seres vivos que povoam Cannery Row (acho que senti algo similar ao ler “O cortiço”, de Aluizio de Azevedo, no século passado) me fazem concluir que avaliar esse pequeno livro é uma tarefa não fácil, o que certamente me levará a relê-lo.
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