COMPREI, recentemente, uma TV nova. Bem fina, full HD, ausência de botões e uma infinidade de funções, muitas delas um verdadeiro desafio para tecnologicamente inábeis como eu.
Enquanto quebro a cabeça para entender como fazer o troço exibir as imagens, penso no velho “tubo” que tínhamos em casa, lá na Floriano do final dos anos 80. Era uma TV da marca alemã Telefunken (creio que esta marca deixou de produzir Tv’s, ou até mesmo deixou de existir!), bem ao estilo: caixa de madeira, três pequenos botões e o grande seletor na frente do lado direito. Me lembro particularmente de um botãozinho que ficava atrás da Tv, que servia para “parar” a imagem, quando esta ficasse rodando com aquelas listras que atormentava todos justamente nos momentos decisivos dos programas que assistíamos.
Mesmo a imagem em preto e branco não tirava a magia que era assistir a TV. Crianças que éramos, não perdíamos por nada a programação infantil, naquela época bem mais interessante que a que as crianças hodiernas são obrigadas a suportar. Só para citar os quesitos qualidade e criatividade, o que se vê hoje na TV muito deixa a desejar quando penso na “Vila Cézamo”, nos “Mupetts”, na versão original do Sítio do Pica-pau amarelo e na programação da antiga Rede Manchete, onde vi a ascensão dos seriados japoneses, como Jaspion, Jiraia, entre tantos…
Foi ainda na nossa velha Telefunken que assisti a boas cenas de amor nas novelas veiculadas – quando ainda as assistia. Para um jovem adolescente, era o ingrediente perfeita para minhas intermináveis digressões nas tardes que passava à beira do “cano”. Ficava absorto com as histórias novelescas, marcadas na minha lembrança pelas músicas que acompanhavam o desenrolar do folhetim. Dessa experiência cultivaria anos depois o hábito de dormir com um rádio de pilhas ao pé do ouvido, sintonizado numa emissora que tocava as músicas das antigas novelas que assistia. Foram muitas as noites, várias delas insones, onde, já deitado, sentia o peito arder de uma inexplicável saudade e exausta solidão, sob o som de músicas como a canção italiana Al dilá, de Emílio Pericolli. Nessas ocasiões, me deixava levar pela maré inexpugnável de lembranças, quando revia caminhos feitos por mim, nem sempre repletos de cor e vida, mas muitos deles embargados por uma cinzenta sensação de perda e vazio…
A TV recém comprada, que me chateia com tantos dispositivos, muitos dos quais nunca irei usar, me faz pensar em algo mais soturno, porém, verdadeiro: em como tudo hoje em dia é feito para não durar. Utensílios de uma casa, que antes duravam várias décadas, hoje não duram cinco anos; brinquedos que se levavam consigo por uma vida inteira, são facilmente quebrados. O que dizer sobre isso? Que o preço do desenvolvimento traz consigo uma voraz consequência: as lembranças, assim como quem nada pode sentir, é tragado pelo ostracismo, um monstro intangível que tanto estrago faz para a memória…
O que dizer de tantas outras coisas, que acabaram sendo substituídas por outras mais novas e menos duráveis? Assim como a velha TV, que ficou para trás como um símbolo imortalizado de um tempo onde a vida corria mansa e os dias eram tranquilos, às vezes tenho a impressão que, ou fui eu que me tornei descartável ou o pior: sou um ser efêmero, uma figura de outros tempos deslocada no atual, destoando de um agora tão profundo como a superfície de um pirex.
concordo com vc em tudo o que vc falou, hoje as pessoas estão mais violentas, os desenhos estão mais violentos, o jeito das pessoas conversarem estão mais violentos, as crianças estão mais violentas… só sei que na minha época de criança, era bem melhor, sem comparação. e olha que eu só tenho 29 anos eim…
De fato, muito louca esta realidade… Às vezes me sinto deslocado no tempo, e percebo que ser criança foi uma das coisas boas que levarei sempre! Obrigado por comentar. Hugs!
a tv telefunken pode nao existir no brasil mas em outro pais nao sei onde tem ate tv lcd da Telefunken
É verdade, bons tempos aqueles, a TV era inocente, hoje tem todo tipo de podridão e as crianças assistem, ficam violentas, ficam maliciosas, quase que nazistas.
As séries eram boas, os programas musicais eram eram bons e com requinte.
Hoje infelizmente só a porcaria.
Os aparelhos de TV, mesmo sem a tecnologia atual eram um mistério, eu queria ser radiotécnico, comecei até estudar mas parei porque eu também gostava de desenhar, e me tornei um desenhista profissional.
Bom, eu acho que escrevi e acabei fugindo do assunto, mas aqui fica a velha frase. BONS TEMPOS!
Sou de 1955.
Alguem tem a tv telefunken daquele modelo acima???
a telefunken mostrada acima e uma modelo tvc 363
Só uma observaç~çao, a Telefunen ainda existe e é vendida na Europa..
http://www.telefunken.com/home/
Estava vagando pela net tentando achar alguma coisa que relembrasse a minha infancia que foi com certeza a melhor epoca. Lembrei da velha tv, do muppet show, spectreman, jerry lewis e outras coisas que acompanhadas de um bom pacote de biscoitos seriam o pano de fundo de momentos perfeitos. Joguei Telefunken no google e para minha surpresa encontrei uma tv identica a que tinhamos, que é igual a sua também. Fico feliz de saber que existe mais alguem que pensa como eu. Obrigado pela foto da tv e do seu texto.
Bons tempos aqueles. Hoje só vemos a apologia da violência, sensualidade e falta de criatividade. Parabéns pelo seu texto Pê Souza.!