DE REPENTE, é você que vejo, os passos lentos na escuridão dos meus sonhos. Um farfalhar me tira deste transe de saudade, dessa interminável quimera que surpreende meu naufrágio solitário…
Te vejo, tu tens nas mãos um branquíssimo véu, fino, levado pelo tênue movimento de tuas mãos, numa dança própria, que eu levarei para sempre na intragável lembrança de nós dois. Os meus olhos, como que hipnotizados pela beleza deste momento, onde és figura central, envolta de toda a força de meu sentimento, espargido por entre os dias antigos do passado, uma intrépida caminhada embevecida pelo que construí com meu impoluto sentir.
De repente, eu posso sentir o perfume que emana dessa dança, um cheiro de saudade invade meus pulmões, inertes e incapazes de explodir a multidão das minhas lágrimas, embargadas de nostálgica falta…
Martelo ao piano a canção do coração. A cada compasso, um descompasso de meu ser interrompe a melodia do fim, mártir único desse inverno intransponível de lágrimas frias, de indeléveis rancores, de um vazio inexplicável, como uma poesia sem o verso perfeito. Sim, a palavra me falha, uma súbita mudez de sentimentos, apenas a música que enche meus ouvidos e que me esvazia a esperança na tarde antiga, tarde incompleta, tarde da tua ausência…
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