JULIEN SOREL SE PARECE com tantos jovens por aí. Ambicioso, inteligente, possuidor de uma memória prodigiosa, amante inveterado. Disposto a fazer qualquer coisa para galgar os preconceituosos degraus da sociedade francesa, onde vive, no século XVI. Inclusive a morrer…
Esta foi a combinação mais que perfeita do personagem principal de “O vermelho e o negro”, livro que acabei de ler, do escritor francês Henri Marie Beyle, mais conhecido como Stendhal. Sem dúvida, posso afirmar que este é um dos grandes clássicos de todos os tempos, tanto por sua importância literária como por ser o retrato de uma sociedade marcada pela preconceito, pela ambição desmedida, pelo cinismo e pela ganância.
Julien, nascido de uma família pobre dos arredores de Verrières sempre sonhou ser alguém na vida. Sua inteligência ímpar, aliada à memória impressionante o levou a trabalhar como professor particular dos filhos do prefeito da cidadezinha imaginária de Stendhal. Daí para o sonhado reconhecimento foi um pulo, que o levou a conviver no meio da aristocracia pedante e preconceituosa, à qual Julien odeia.
Mas as linhas magistralmente escritas de Stendhal ficam mais evidentes ao descrever as tórridas paixões vividas pelo jovem seminarista. Com a Senhora de Rênal, esposa do prefeito de Verrières, Julien experimenta um sentimento sincero, calmo e que o envolve de uma atmosfera de imensa sofreguidão; já com a Srta. de La Mole o que ele tem é uma paixão cega, egoísta e fatal, que o faz cometer loucuras por alguns instantes de pura volúpia aos pés de Mathilde. Julien se vê em meio a dois sentimentos tão singulares, a ponto de perder a cabeça e, em nome dessas paixões arrasadoras, cometer um crime contra a esposa do prefeito, o que acaba por custar-lhe a própria vida…
Como disse em outras oportunidades, ler é um desafio muitíssimo prazeroso; algo que muitos não querem ou não têm oportunidade de experimentar. Somente a leitura é capaz de transformar as pessoas, estimular a criatividade, trazer um prazer diferente. Com a era cibernética, os jovens de hoje jamais trocariam a algazarra digital, a internet e as redes sociais pela quietude de explorar vagarosamente páginas bem escritas como são as de Stendhal. Muitos dizem que vivemos o século da superficialidade, onde cada pessoa acaba se tornando “profunda como um pirex”.
Ainda não foi respondida a pergunta sobre se estamos nos tornando mais imbecis, com a internet. Mas, com certeza, a rapidez da informação jamais substituirá os tijolos pacientemente lapidados do conhecimento adquirido através dos livros.
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