A rotina quase nunca é diferente: o mostrador luminoso do despertador anuncia uma nova manhã; o desjejum composto por pão, queijo, café e torradas; tudo era sorvido em grandes bocados, juntamente com as notícias recentes do Diário Matinal.
Antes de sair, um rápido check-up na maleta: agenda, o iPad 2 recentemente adquirido depois de ter enfrentar uma longa fila defronte à Apple Store, papéis tratando de negócios rentáveis; consulta ao relógio de pulso Calvin Klein: oito e meia; logo ao deixar a garagem do prédio, duas quadras adiante, o primeiro grande desafio do dia: outro engarrafamento; momentos assim só mesmo suportados com música ambiente… Sintoniza várias estações, até parar em uma que toca uma música conhecida; o stress do início do dia logo se transforma numa saudade latente que se desprende do seu peito…
Quase duas horas e meia depois, enfim, o escritório; as mesmas banalidades são ditas aos colegas de firma; a mesa à sua espera abarrotada de papéis: malditos problemas impressos. Senta-se na sua confortável poltrona Nashville, liga o pc, checa e-mails, na maioria tratando sobre indigeríveis propagandas. Conecta o fone de ouvido no iPhone, uma faixa é selecionada, Enya, seja bem vinda…
Findo o dia, uma rápida passada no Bar do Tony para um chopp gelado onde pode deixar seus olhos vagarem pelas distantes luzes da Avenida Campos Sá. Enfim casa. Checa a secretária eletrônica; tio Werther mais uma vez prometendo uma visita no fim de semana; um banho gelado vai cair bem; depois, talvez, um bom livro, acompanhado de uma taça de Don Arturo tinto.
Uma rápida olhadela pela estante de carvalho apinhada de volumes, retira um; confere o título: Tarde da sua ausência, do Cony. Pequeno grande livro, pensa. Não é o título nem a história que lhe chamam a atenção, mas a dedicatória, logo na primeira página, escrita em vermelho, numa caligrafia conhecida e que o faz sentir saudade:
“Ao mais que amado Pablo. L.”
De repente, tudo é ruína e lágrimas.
As fotos de Bresson são deveras intrigrantes!
E sua sensibilidade para escrita, caro Pê, também.
Abraço!
Ótimo texto Pê.
Retrata bem o cotidiano sufocante do homem moderno… Cheguei até a sofrer junto com o protagonista… Obrigada pelas palavras de reflexão e oportunidade de uma leitura envolvente e edificante…
Abraços..