SEM O QUE DIZER, Eurico deixou o corpo cansado afundar na poltrona do apartamento envolto de penumbra. Ele duvidava que aquelas sombras fossem mais espessas do que a sensação de vazio que o enchia.
Mentalmente, refazia todos os acontecimentos da noite; revia o diálogo difícil, a sua costumeira intolerância pelos caprichos de Mariana, e, por fim, o desfecho muitíssimo desagradável…
A inépcia que a situação trouxe o impedia de sequer raciocinar porque agira de tal modo. Acima de tudo, era fato: Eurico sentia-se o homem mais estúpido do mundo. Não porque fosse muitas vezes insensível a cada gesto de carinho pela amada da sua vida; não porque fosse incapaz de agradecer pela presença tão importante em sua vida, de Mariana. Sentia-se estúpido por não permitir que um sentimento tão intenso o envolvesse completamente; sentia-se estúpido porque lhe faltara as palavras e atos que tornariam aquela noite tão especial; enfim, sentia-se um perfeito estúpido por ser incapaz de dar o amor que ela tanto merecia…
Sua dor aumentava à medida que a noite avançava. O silêncio torturava cada minuto de insônia. Distante, podia ouvir soluços incontidos. Eram ecos de tristeza que se espalhavam freneticamente pela casa cheia da ausência de Mariana. Eram as marcas de suas mãos, espalhadas em cada cômodo, como a anunciar o esperado e planejado encontro com o amado… A mágoa impingia uma amarga distância entre os dois. Um profundo hiato de desilusão formara-se da noite despedaçada pela ingrata estupidez de Eurico.
As primeiras horas da manhã iam sendo fiadas pelos primeiros raios de sol. Então ele pode ver nitidamente o seu erro maior. Caos e barbárie. Sentia-se como o mais abjeto dos homens; sentia-se confuso com tamanha carga de sentimentos. Eurico, de fato, estava cansado. Estava cansado de não saber fazer Mariana feliz.
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