AO TEMPO EM QUE ESTOU OUVINDO On your share e Watermark, as lembranças saltam-me aos olhos. Ou melhor, os idílios. É somente este o legado da velha casa onde Jairo, Alberto e eu construímos parte de nossa vida.
Como entender a lembrança evocada pelos sons de ontem?
São precisamente estes sons, agora sendo por mim ouvidos, mas que me transportam ao ontem onde os ouvi também, abraçado pela velha casa, monumento ao passado. As circunstâncias eram outras; os sonhos, ainda bem pueris; as leituras que fiz nas tardes mornas foram o meu refúgio, ante a solidão latente.
De Jairo, só posso me lembrar dos seus sonhos, muitos na quantidade, pouquíssimos realizados. Sempre me lembrarei também do seu sotaque carregado, dando a ele um ar paulistano à antiga, intensificado pela boina xadrez que tinha sempre à cabeça. Jairo foi mestre em todos os sentidos: nas trapalhadas até no apurado senso poético emprestado às letras que compunha; desde as aulas clandestinas de Taekwondo, até os mingaus de farinha láctea, que costumava nos empurrar…
De Alberto… Bem, Alberto era o nosso pequeno gênio. Ainda que desengonçado, com toda a sua magreza, já despontava como grande músico. Amante dos cafés, sempre presentes na velha casa, era quem trazia mais colorido àquelas saudosas manhãs com seu violão sentimental. Também, como Jairo e eu, Alberto foi leitor, bem mais aplicado e disciplinado do que nós. Gostava dos Clássicos, sempre procurando oportunidades de expor o conteúdo de seu aprendizado. Sempre dava um jeito de citar frases emblemáticas, e era engraçado vê-lo dizer qualquer coisa séria, o habitual cacoete que era sua marca pessoal. Muitos anos depois, outras duas paixões iriam acrescer-se à sua vida: os clássicos da Psicologia – Pavlov, Skinner, Freud e o cigarro, sempre pregado no canto dos lábios.
Da casa… Bem, a casa ainda permanece. Jairo, Alberto e eu partimos, enfim. Cada um embrenhou-se por um caminho, próprio das coisas da vida. Apenas as lembranças perduram, em desafio ao tempo, este ser tão cruel quanto um cossaco russo.
Crédito da imagem: deviantart.com
Mais uma vez, um belo texto!
Oh, nostalgia!!
abraços
Rs, sempre com palavras gentis…