Parar… Rever… Pesar as conseqüências. Pablo sentiu-se perdido por esta possibilidade. Enxergar-se ao espelho. O espelho da sua consciência, às vezes cruel, às vezes condescendente. E sentia-se confuso com o peso de uma voz igual à sua, dizendo-lhe o que deveria fazer. Mas, pra quê?
A tarde se aproximava, era hora de sair e espairecer, olhar um pouco o mar, desmanchar-se na praia em marolas brancas e salgadas. Escolheu uma música no seu iPod, uma canção bem apropriada para seu estado de espírito: I love you de Sarah Mclachlan.
Enquanto caminhava sem direção, via as pessoas às dezenas, indo para destinos que ele ignorava, imersas em seus pensamentos. Pelos seus semblantes, tinha uma vaga ideia de como se sentiam, ou no que pensavam. Conjecturou se também não estaria passando uma mensagem de seus mais íntimos pensares… Parou diante de uma porta espelhada e se viu por alguns segundos. A calça jeans rasgada na perna direita, um sinal de sua rebeldia; a camisa cinzenta com os dizeres Ideology: a want one to live!; a barba de quase um mês que deixava seu rosto ainda mais sombrio.
Há muito Pablo decidira desistir-se. Não era caso de suicídio, mas simplesmente decidiu desistir de si mesmo, abrindo mão do amor, do que alguns chamam de felicidade, de uma vida ligada a outra pessoa. Chegara à conclusão que não fora feito para uma vida a dois, era um eremita moderno, um homem de todos os lugares e de um só lugar. Preferia passar horas plugado a seu iPad, lendo na sua biblioteca virtual, a gastar míseros minutos numa DR (leia-se discussão de relacionamento). Não pensava duas vezes em dedicar-se a ler os livros de sua lista que não parava de crescer. Não fora feito para amar; amar para ele, só nos romances de Garcia Marquez, a exemplo dos Buendia da Macondo tão bem descrita pela imaginação do escritor colombiano.
Pablo jamais abriria mão das suas andanças, dos amores extemporâneos e efêmeros que vivia aqui e ali. Sua vida se resumia a unicamente dar vazão à sua forma de viver hedonística. Sexo? Não era problema para ele, que via no sexo a possibilidade de descobrir a milésima parte de diferença entre as mulheres, como escrevera Kundera. A milésima parte, pensava consigo, só isso bastava. Era o mais profundo que poderia ir num relacionamento: o instante exato do gozo, do fugidio segundo em que perdia a consciência intelectualizada e trazia alívio ao seu corpo magro e maltratado pela escassez de sono e excesso de café. Era nisso que consistia sua desistência. Uma forma de vingança atroz, muda, fugaz. Uma forma de dizer que estava cansado de fingir a todo o momento, de rir quando na verdade queria era fugir de tudo e todos. Nisso consistia sua busca. Não por dinheiro, por felicidade, por amar um ser que jamais seria capaz de entendê-lo. Era uma busca trôpega, dolorosa, mas necessária. Era a busca dele mesmo. Uma busca por si mesmo…
Crédito das imagens: Deviantart.com
Como sempre surpreendeu-me!
Pablo é um ícone. Como um rock progressivo que caminha para o grande boom!
Parabéns!
Um ícone atormentado pelo seu desejo de mudar o mundo (o seu, ao menos…)