Por um instante me vi caindo. Sentindo meus sentidos serem violentados por uma súbita ausência de paz e teimosia, eu na verdade temi que neste instante me perdesse para sempre; que a loucura que obscurecia a minha memória fosse corrompida pelo vírus do medo, do estar só, apenas eu e uma esquecida xícara de café amargo.
O que pude fazer foi esperar que a noite mais dura passasse. Mas teria que fruir um a um meus maiores temores, na verdade uma luta contra todos os meus erros, contra minha consciência acusadora e cruel. Eu teria que me encarar a mim mesmo: era como se a busca que empreendi por anos terminasse e eu, por fim, encararia minha face sem máscaras…
Aí me revelaria fraco, as diversas ranhuras expostas do meu opróbrio fuzilando minha alma cinzenta e exausta. Daí emergira as sombras onde cogitei estar calcado; mas este chão imaginário se desvaneceu ante a dureza da crua realidade. E então a queda. Trêmulo e confuso, vi tudo mas nada via, porque o que enxergava era senão as ruínas onde pensei estar seguro, que restaram após a avalanche que devastou minha ínfima ideia de mundo.
Mas, do meio do caos pude erguer-me; relembrando o caminho da minha mocidade, que muitas vezes me levou a meu paraíso secreto, tentei buscar refúgio em contemplar a imensidão do céu estrelado. Deixando de lado a beleza poética da noite que me cobria, bradei aos céus por respostas, indignado por minha nefasta situação. E como tolo fui: porque a resposta sempre esteve dentro de mim mesmo, eu, um agente da esperança que agora me faltava.
Então pensei como é cansativo tudo isso, o cair de si próprio. E me cansei de cair.
Saudades de ler seus textos meu amigo!
Mas valeu a pena esperar, post fantástico!