HÃ, O QUE é isso?
Bem, todo dia de manhã, ao ir para o trabalho (vou a pé) passo por esta rua. E, não há como não ver esta rudimentaríssima construção, no meio do tempo. Trata-se de uma residência (isso mesmo, uma residência!) onde vive uma família: o marido, a esposa e duas crianças, com pouco mais de cinco e três anos, cada uma delas, creio.
Pelo que posso perceber, o pai e chefe desta “casa” vive de catar lixo. Até aí nenhum problema. A coisa se complica quando descubro que é aí, no meio do lixo, improvisado como “lar”, que eles vivem.
Bem, isso não é surpresa para ninguém. Mas esta vista em nada agradável me suscita profundas reflexões. Zygmunt Bauman, um dos grandes pensadores do nosso século e autor de termos como modernidade e amor líquidos, diz:
“Todo refugo, incluindo aí as pessoas refugadas, tende a ser empilhado de maneira indiscriminada nos mesmos depósitos”.
Não seria aquela família que vive no meio do que descartamos como inútil o resultado descartável social, os “venenosos eflúvios da decomposição social”, como disse Bauman no livro Vidas Desperdiçadas? Eles não seriam o exemplo mais palpável – e visível – da degradação social por que passamos? E quanto àquelas crianças? Que futuro terão, já que desde pequenas tem aprendido a viver à margem, sem direito a reclamar as prerrogativas constitucionais que lhe são inerentes?; a ter ao menos a privacidade de tomarem banho sem estar sob as vistas de quem passa por este logradouro público (elas o fazem no meio da rua, com apenas um balde d’água velho e encardido)?
Bauman ainda diz:
“A produção do refugo humano, ou, mais propriamente, seres humanos refugados (os ‘excessivos’ e ‘redundantes’, ou seja, os que não puderam ou não quiseram ser reconhecidos ou obter permissão para ficar), é um produto inevitável da modernização, e um acompanhante inseparável da modernidade”.
Mas, até quando?
Quantas e quantas vezes já parei e pensei e pensei… até quando?
De repente me lembrei de Gibran e de Voltaire.
Voltaire falando sobre a beleza, sobre o que muda e o que não muda na opinião dos homens quanto a beleza, a busca do belo comum aos homens e de Gibran um pensamento que diz que diante da face da beleza os homens dão-se as mãos como irmãos.
É preciso redescobrir o homem. Perceber a verdadeira beleza da vida.
Um grande abraço.
O que será impossível enquanto a sociedade consumidora estiver mais preocupada em buscar o novo e produzir mais lixo…
Difícil mesmo conviver com tantas disparidades, desigualdades sociais, injustiças, etc.
É triste saber que muitos seres humanos desistem de lutar por mais e se entregam à mendicância. E as causas são inúmeras: decepção amorosa, grande perda familiar, trauma, falência, e por aí vai…
Grato por compartilhar o texto, Pê!
Abração!
Sem falar naqueles que, obrigados por algo maior, desistiram de lutar contra o inimigo invisível, porém, impiedoso, que é o capitalismo selvagem!
Acabo de despertar do meu mundinho por um momento.
Hoje será um dia diferente depois desta leitura.
Obrigada.
Beijo!
Os meus dias sempre começam com essa reflexão. Graças à imagem que emoldura este post. E, sinceramente me sinto totalmente impotente…
Ontem pude refletir um pouco sobre valores, e torno a fazê-lo agora… São eles? É a sociedade? Sou eu? É sempre importante questionar-se e até gerar uma polêmica dentro de si.
Talvez um dia eu consiga achar um jeito de “suavizar o lado rude”.
Obrigada, Pê!
“Suavizar o lado rude”… gostei desta expressão! Somos civilizados, como nos referimos a nós mesmos. Porém, somos capazes de atos atrozes de despejo do nosso semelhante… incompreensível isso tudo.