não foi esta a vida que sonhei: uma forma de existir desprovida de cor e diálogos; uma maneira de ser, de reencontrar, para depois perder, ainda mais intensa que antes. não foi assim que sonhei.
podia jurar que tudo fora construído para ser perfeito. que não teria tanto caos no meu pensar vago e interrupto. que a chuva não me faria sentir vontade de chorar (e assim fico). acreditaria que é apenas elucubração cada lembrança ruim trazida pelos grossos pingos que violentam o meu telhado. que o cheiro molhado seria um convite a lavar minha consciência impura e néscia. que, embora distante, meu coração não se perderia, não perderia sua força ao menor sinal da avalanche sorumbática de todas as noites, noites de todos os sons…
esta, deveras, não é a vida que quis. repleta de garrafas vazias, de portaretratos espatifados, de receios grotescos. são caminhos tortuosos como poesia sem métrica, envolvidos em profundos meandros de dúvida e imensa constelação de erros vários. e era para ser? era assim que eu me perderia? que ficaria nauseado pelo ópio do medo, da palavra insegura engasgada como está? quimeras. e quem dera.
deveras! a vida que eu quis, não esta. mas um sonho bom, que me embala quando canso de ser eu mesmo…
Sonho perdido
30/03/2010 por Paulo Sousa
Belíssimas palavras, amigo!
Mui inspiradas…
Abraço!
Bem, Filippo, na verdade elas foram resultado de uma profunda insatisfação por mim mesmo. Às vezes ficamos assim, desgostosos com o que somos, o que fazemos, enfim, a essência parece ficar em frangalhos. Quem nunca passou por isso, não é mesmo?
Abraços, e bem vindo!
Pê.
“A grande arte vem da grande dor”, não é mesmo, Pê?
Funciona assim pra mim; quando estou triste/revoltado/indignado/desgostoso é que escrevo melhor… do contrário os textos saem meio murchos.
Parabéns pela inspiração!
Abs, Robson.
É na dor que nos refazemos. Muito bm, voltarei mais vezes. Reflexões sempre nos engrandecem
Tive a sensacão q vc roubou os pensamentos de ha alguns dias e estampou-os no papel. A conclusão da minha reflexão? Q “não foi esta a vida q eu sonhei”… Mas ainda ha tempo de nuda-la.
(Teclado desconfigurado. Desculpe a falta da cedilha e dos acentos agudos.)
Estranho muitos de nós, amantes da palavra e pensadores de nós e do nosso tempo compartilharmos as mesmas dores, angústias e perdições…
Abçs.
Belas palavras! O artista tem essa vantagem sobre o cidadão comum. Essa estranha necessidade de se expressar através da sua arte.
Essas palavras muito se parecem comigo. Muitas vezes me pego pensando essas coisas… mas é assim mesmo, se nunca tivermos momentos d pôr em xeque o que somos e o que estamos fazendo das nossas vidas nunca conseguiremos evoluir como seres humanos.
Belo texto!
Abraços